Como sobreviver a um chefe mau

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Como sobreviver a um chefe mau

Artigo publicado originalmente no LinkedIn.

O aspecto mais surpreendente da maldade no ambiente empresarial é a quantidade de disfarces que ela possui.

Já ouvi inúmeras histórias de executivos submetidos a líderes perversos, mas fico surpreso principalmente com o cuidado que eles têm com as palavras que utilizavam para descrevê-los:

Ele é muito inteligente e por isso é difícil de ser compreendido e se irrita com isso e, por vezes, acaba gritando comigo na frente de todos.

Ele gosta de trabalhar e está longe da família, é por isso que o faz até às 23h todos os dias e temos de acompanhá-lo.

Ele não tem tempo a perder e por isso, dá feedback na frente de todo mundo.

Eu não estou mesmo conseguindo os números e por isso que ele faz duras críticas a mim e me faz passar vergonha na frente de todo mundo.

Ele é duro comigo, mas é muito trabalhador.

Todas as pessoas que chegaram a mim pedindo ajuda nestas situações estavam diante de pessoas perversas e simplesmente não enxergavam. As consequências são pesadas.

AS CONSEQUÊNCIAS DA MALDADE

Um executivo, assim como qualquer outro indivíduo, submetido a chefes como os descritos acima vai desenvolver problemas como insônia, dores de todo tipo – cabeça, estômago etc. – estresse contínuo e, nos casos mais graves, burnout, síndrome do pânico e depressão, entre outros.

Todos esses problemas são terríveis.

Em geral a recuperação é lenta, dolorida e nem sempre é possível voltar à saúde que se tinha antes dessa experiência. Ela deixa marcas.

A causa disso é que a maldade é um assunto muito pouco estudado, uma espécie de tabu no ambiente empresarial e, portanto, as pessoas não sabem reconhecê-la e lidar com ela.

RECONHECER A MALDADE

No meio empresarial ainda vejo uma ingenuidade reinar a respeito do tema, principalmente quando é uma característica de um gerente, diretor ou CEO.

Em primeiro lugar é importante destacar que pessoas más são minoria em qualquer sociedade.

Abaixo está uma visão da proporção de pessoas más em relação às demais:

Fonte: P. 117 – do livro: “Ponerologia, psicopatas no poder” – de Andrew Lobaczewski

O que vou escrever agora está baseado no livro: “Ponerologia, psicopatas no poder” – se você é sério a respeito do tema, recomendo fortemente que o leia. (1)

ABAIXO A INGENUIDADE

A pessoa má conta com sua ingenuidade para suas ações.

Se deseja precaver-se da maldade, deve reconhecê-la e desfazer-se da visão ingênua que você tem do mundo.

Quando desconfiar da ação de uma pessoa pergunte a si mesmo: a quem serve esta ação?

A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA DE UMA PESSOA MÁ

A pessoa má irá falar com você de forma a convencê-lo a agir da maneira que ela deseja e que não cumpre com os propósitos da empresa, do departamento, das leis ou da moralidade.

Mas, então, o que uma pessoa má deseja?

Em uma palavra: poder.

Pois é assim que ela compensa a suas deficiências, principalmente intelectuais. Em função dessas deficiências, a pessoa má tem uma persistência doentia pelo poder.

Ela pode buscá-lo na política, no crime, ou nas empresas.

Por isto, considero a maldade o segundo maior problema das empresas. Pois os cargos hierárquicos empresariais são atraentes para pessoas de má índole.

Por favor, não me interprete mal, a maioria esmagadora dos gerentes e diretores são boas pessoas – trabalho com eles há mais de 20 anos e sei o que digo. Mas, existe um percentual pequeno que causa um estrago danado na vida de muita gente. Além disso, ocupam um lugar no qual deveria estar alguém muito bem qualificado e de boa índole.

Por isso a relevância do tema.

COMO SOBREVIVER À MALDADE

Antes de estabelecer orientações gerais, se você é jovem – acabou de se formar e está ainda começando sua carreira, se identificar que está sob um gestor maldoso, saia da empresa, principalmente se ele for bem mais velho que você. Pois a idade é um dos principais fatores de poder, inclusive mental e você dificilmente estará em condições de enfrentá-lo. Em outras palavras: ele vai enganá-lo.

Mas, caso você já esteja com certa experiência e em um cargo que deseja muito preservar, vamos ver o que é possível fazer.

A primeira regra é: seja forte.

FORÇA

Tenho alguns clientes portugueses e que são grandes exemplos de força contra a maldade.

Graças ao seu excelente preparo intelectual, são mentalmente muito fortes, inteligentes, possuem muita vivacidade, capacidade de entendimento e de suportar pressão por longo tempo até encontrar a maneira de vencer seu oponente.

Importante: às vezes, a pessoa má não é necessariamente seu chefe, pode ser inclusive seu subordinado, ou de outro departamento e procura ter poder sobre você ao exagerar na interpretação de regras, na lentidão dos processos ou simplesmente não fazendo o que deveria.

Daí a importância da força física, mental, intelectual e espiritual para lidar com essas pessoas.

Portanto, faça tudo que estiver ao seu alcance nessas esferas para se preservar e ter resistência.

Faça exercícios físicos e tenha momentos de relaxamento para que a situação não afete sua saúde.

Tenha um mentor, coach, ou alguém com muita experiência para orientá-lo de como agir nesta situação.

Seja um estudioso contínuo para ter uma boa capacidade de argumentação, repertório e conhecimento – lembre-se que, em geral a pessoa má tem medo de quem não se deixa intimidar e sabe mais que ela.

Não se esqueça de rezar para alimentar sua alma, pois você precisa, por vezes, ter a paciência de Jó para suportar esta situação que é muito adversa.

Tudo isso fará você ter energia para ganhar tempo.

GANHE TEMPO

O tempo desempenha um papel importante na luta. Pois você precisa mapear o problema. Isto é, saber quem está ao lado de alguém mau.

MAPEIE A EXTENSÃO DO PROBLEMA

Para que a pessoa má se mantenha no poder ela se junta a outras e, portanto, descubra se há um grupo que a apóia.

Somente com esta visão você poderá agir.

Seria uma ousadia minha e um desrespeito com você, leitor, eu afirmar que sei exatamente o que você tem de fazer na sua situação para resolver este problema: não sei quem você é, o que está passando e com quem.

Portanto, para utilizar o que ler aqui terá de fazer os ajustes para sua situação em particular.

A primeira orientação foi aumentar sua força porque, muitas vezes, você não tem outra oportunidade de renda a não ser a empresa em que está agora.

A segunda orientação é mapear o apoio porque tenho visto pessoas ingenuamente acionar a ouvidoria da empresa para estes casos.

Não recomendo que você faça isso.

Infelizmente, tenho observado um número preocupante de canais de ouvidoria que são distorcidos e não mantêm o sigilo que dizem fazê-lo. Não conheço nenhum caso de reclamação na ouvidoria onde o reclamante não tenha sido identificado, com todas as consequências negativas disso.

Portanto, mapear o problema significa saber qual grupo está junto com esta pessoa.

É um comportamento das pessoas más: elas se identificam, se juntam e se protegem.

Se você identificar que o apoio à pessoa vem de cima, você precisará mais ainda de força para suportar a situação até encontrar outra oportunidade, pois a pessoa que o aflige não sairá e não mudará de comportamento.

Em geral, o que acontece com empresas nas quais o apoio a estas pessoas vem de cima é que seu corpo de empregados terá uma grande parcela de profissionais resignados.

CORAGEM PARA SER IMPOR

Se você tem mapeado a pessoa má e quem a suporta e acredita que pode enfrentá-la, então é o momento de correr riscos. Pois, ao enfrentar uma pessoa má que detém poder, ela pode vir a demiti-lo.

Se você considera que pode correr este risco, é hora de partir para ação.

FEEDBACK PAUTADO EM PROPÓSITO

Em primeiro lugar experimente o feedback individual – no particular, sempre no particular – seja claro a respeito de como gostaria de ser tratado. Diga o que o incomoda em termos de propósitos da empresa, do departamento, legais ou morais que não estão sendo cumpridos pelo comportamento da pessoa.

Use os valores da empresa para argumentar.

Quando você fala em termos de propósitos, tem mais chances de ser respeitado porque passa a ser um guardião deles, em vez de alguém interessado em ser melhor tratado.

SEJA BUROCRÁTICO

Deixe registrado as decisões e orientações que a pessoa lhe dá. Se possível com um e-mail com cópia para outros indivíduos da empresa. Embora eu não aprecie o excesso de e-mails que hoje acontece em toda organização, infelizmente, nestes casos é importante para ter um histórico com a pessoa.

Em geral, os gestores maus não gostam de ter registro que não podem controlar de suas decisões e ações.

Você poderá usar isso para argumentar com ele e não tenha dó de expor sua incoerência e incongruência.

O CHEFE DO CHEFE

Se você considera que pode falar com o chefe do seu chefe, então, vá em frente! Mas use os propósitos que mencionei no item anterior para que a conversa seja de alto nível.

O segredo aqui é o seguinte: peça a ele uma orientação de como lidar com o comportamento do seu gestor e que não está em acordo com os propósitos da empresa.

Ao fazer deste modo, você novamente se coloca como um guardião dos propósitos e não um crítico de seu líder.

O PAPEL DO RH

Se você considera que o RH pode auxiliá-lo nesta luta, faça uma reclamação no departamento, especialmente com quem o contratou. Afinal, se o que ele prometeu está longe da realidade, você deve cobrá-lo

Se você for profissional de RH, novamente recomendo fortemente que se interesse pelo tema por meio da leitura do livro “Ponerologia, psicopatas no poder”.

Importante você saber que, do mesmo modo que ninguém fica bravo com um autista por causa de seu comportamento, não faz sentido simplesmente chamarmos alguém de psicopata e deixar por isso mesmo.

Está na hora das empresas, especialmente os departamentos de RH, se interessarem em ter mecanismos de identificação de pessoas com psicopatologias relacionadas à maldade e oferecer ajuda, orientar e encaminhar estes indivíduos a tratamento adequado.

Elas precisam sair das empresas, especialmente de cargos de liderança e serem tratadas para que não causem danos a outras pessoas.

Ninguém é culpado por nascer com uma patologia. Se é verdade que a maldade pode ter sua origem metafísica e na moralidade da pessoa, também é verdade que o caso que cabe à empresa endereçar é o de origem patológica.

PREJUÍZOS FINANCEIROS DO MAL

Estou cansado de ver empresários ser engambelados por executivos que se apresentam como salvadores da pátria. Eles são hábeis nas palavras, no carisma e nas promessas de resultados extraordinários e por isso são alçados a altos cargos na esperança de que poderão cumprir suas promessas.

O resultado é desastroso.

Conheço casos de indivíduos que roubaram acionistas por anos a fio e somente foram descobertos tarde demais. Foram demitidos, mas nem foram processados porque a vergonha para a empresa seria insuportável.

Não tenha ilusão: gestores perversos são péssimo negócio para a empresa.

Por isso considero que o tema tem de ser aprofundado, debatido e endereçado, não apenas para o bem dos demais empregados, mas para os acionistas.

Afinal, levando-se em conta o esforço e tempo que todos dedicam ao trabalho, ser vigilante e livrar-se de pessoas más quando identificá-las é um grande alívio a todos.

Conte comigo no que precisar para desenvolver-se e a seus executivos.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

silvio.celestino@alliancecoaching.com.br

WhatsApp (11) 98259-8536

(1)   Livro: “Ponerologia, Psicopatas no Poder” – https://amzn.to/2XaitRC