O DESAFIO DE ATRAIR JOVENS PARA AS EMPRESAS

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O DESAFIO DE ATRAIR JOVENS PARA AS EMPRESAS

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Nesta semana conversei com a diretora de uma empresa de comunicação que me dizia estar com 6 vagas abertas para iniciantes, mas que simplesmente não os encontrava. Da pandemia para cá, ela perdeu jovens que queriam rever suas vidas, suas carreiras, enfim, mudar de rumo.

Em duas outras companhias, uma de TI e outra também de comunicação, conversei com executivos sobre dois temas preocupantes para os RHs: a falta de motivação e a dificuldade de fazer os jovens profissionais entenderem o que lhes está sendo pedido.

Em contrapartida, uma amiga me pediu para conversar com um sobrinho dela que gostaria de ensinar investimentos para as pessoas.

Ele tem apenas 15 anos, mas em nossa reunião estava empolgadíssimo com o tema e a conversa invadiu a noite e durou mais de duas horas.

Afinal, o que está acontecendo com a relação dos jovens com as empresas?

O que tenho observado é que as companhias estão com dificuldade crescente para manter o brilho como desejáveis para os jovens.

Eles querem ter renda, mas não se sentem tão atraídos assim pelo que é oferecido por elas.

O ENSINO DA CRÍTICA

Um grave problema que assola os jovens e afeta sua relação com as empresas é que as escolas e universidades ensinam a visão crítica em detrimento à verdade.

Lembro-me de minhas aulas de literatura na escola técnica de segundo grau, onde a professora nos fazia abrir um livro didático no qual se liam dois parágrafos atribuídos a Machado de Assis, extraídos de uma de suas obras.

Após a leitura ela nos pedia para fazer o seguinte exercício:

– Agora vocês vão debater em grupo e ter uma visão crítica sobre “Machado de Assis”.

Como isso é possível?

Sequer sabíamos se o texto era de fato dele. Desconhecíamos a história do livro e o porquê ele foi escrito e, é claro, jamais havíamos lido sobre a vida, o pensamento e as obras do autor. Portanto, era evidente nossa total desqualificação para falar a respeito dele.

Entretanto, este treino criou gerações e gerações capazes de dialogar sobre qualquer assunto sem conhecê-lo.

Inclusive sobre as empresas, isto é, mesmo sem conhecer a história que as fez ser como elas são, todos querem dizer como elas deveriam ser.

A visão crítica está para o conhecimento assim como o suco gástrico está para a alimentação.

Se você comer bem, um pouco de suco gástrico fará uma boa digestão. Se comer pouco, o excesso dele lhe dará, primeiro uma dor no estômago, depois uma gastrite e finalmente uma úlcera.

A maioria dos jovens sofre de úlcera a respeito do conhecimento, ou seja, estão excessivamente emocionados a respeito de temas desconexos e sobre os quais conhecem muito pouco.

ENSINAR A CONSTRUIR EM VEZ DE DESTRUIR

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Entretanto, se a visão crítica tem um grande poder de destruição, sem construir nada no lugar, a busca pela verdade gera uma enorme atração às pessoas de boa fé.

Por exemplo, é um apelo muito grande querer aprender para ensinar.

Ao conversar com o jovem de 15 anos sobre investimentos ele não tinha idéia da história por trás da moeda e do momento histórico em que vivemos. Ao esclarecer isso, ele quis saber quais livros ler, quais vídeos assistir e o que acompanhar para ser um investidor bem-sucedido.

Isso tudo me lembra que o padre José de Anchieta descreve em seus livros que muito da incivilidade dos índios decorria de sua língua ser muito pobre e que por isso mesmo sentiam muita raiva por não conseguirem entender e expressar o que desejavam.

O simples fato de aprenderem o português os ajudava a se civilizarem por ampliar sua expressividade e compreensão da realidade ao redor.

Hoje, parece que fazemos o inverso, aprendemos tão pouco e tão mal a língua portuguesa que tem sido cada vez mais difícil aos jovens entenderem as coisas.

O resultado é uma desordem que os fazem reduzir tudo ao momento presente. Assim, a emoção e o falatório desconexo tomam o lugar da memória, da imaginação e da capacidade de estruturar problemas e resolvê-los – que é tudo que as empresas precisam de seus profissionais.

Para piorar, crianças e jovens são colocados para discutir temas para os quais não possuem cognição para compreender. Por exemplo, o mundo não pode ser abordado como um objeto e, portanto, querer falar sobre seus problemas e convidar os jovens a opinarem a respeito deles é pedir uma missão impossível e que os deixa desorientados sobre sua verdadeira capacidade.

Mas, o jovem sempre pode mudar seu mundo interior. Tornar-se mais centrado, ordenar suas emoções, ouvir sua vocação e construir um propósito marcante, relevante e inspirador para si mesmo, sua família e a sociedade.

Acima de tudo, um propósito de construção.

E neste sentido, as empresas ainda são a melhor invenção humana para alguém construir sua vida e cooperar para a solução de problemas reais das pessoas.

Se estamos em um momento ruim para as corporações, é nosso papel, como líderes, desenvolver um ambiente mais focado nas demandas verdadeiras de nossos clientes, descartar temas que sejam alheios a esse foco e convidar os jovens a aprenderem nossa história e o que temos a lhes oferecer para construírem uma vida digna.

É isso que recomendo ensinar a eles.

Pois, em uma sociedade normal, são os mais velhos que ensinam aos jovens, não o contrário.

E para isso temos de nos preparar bem, constantemente e sermos capazes de mostrar um caminho atraente, mas verdadeiro em desafios, riscos e, é claro, recompensas.

Tenhamos a serenidade necessária para fazê-lo. Afinal pela magnitude do problema somente o pensamento de Goethe pode nos guiar: é urgente ter paciência!

Conte comigo para isso e vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

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silvio.celestino@alliancecoaching.com.br