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Uma coincidência inusitada aconteceu comigo nesta semana.
Em meio a uma situação particular bastante estressante e que me fez trabalhar inclusive durante algumas noites, fui sondado para falar sobre administração do tempo, auto-cuidado e estresse.
Já imaginou? Ter de falar de saúde mental… como manter-se calmo… como estar centrado; e eu aqui, p… da vida e querendo esganar algumas pessoas, inclusive a mim mesmo.
Seria tragicômico.
O pensamento que me consola é imaginar que também acontece de médicos trabalharem doentes e psicólogos enlouquecerem seus parentes, de vez em quando.
Mas, ao refletir sobre a situação, o fato é que nenhum de nós está imune à frustração e ao estresse.
O grande desafio é como ter uma resposta funcional a eles, isto é, como manter a calma?
PARE DE FUGIR DOS PROBLEMAS
Acho que já mencionei, em um artigo anterior, a cena da série Downton Abbey, onde a avó – interpretada por Maggie Smith – orienta sua neta a lidar com um enorme problema e que quase a faz tomar uma decisão impensada e drástica.
Suas palavras, realistas, mas ditas com muito afeto, são mais ou menos as seguintes:
– Minha querida, a vida consiste em sair de um problema a outro… de um problema a outro… até que um dia… você morre.
A cena é de uma ternura e serenidade aconchegantes.
De certo modo, temos de nos ver como essa avó que protege sua neta sob o seu manto de maturidade e que a acalanta para que possa suportar o problema, mais até do que o resolver.
Estamos tão preocupados com sermos empáticos com as pessoas que, por vezes, nos esquecemos de que certas emoções, como a ansiedade, a angústia e a frustração, não são as melhores conselheiras para se lidar com uma questão estressante.
O nosso desejo de resolver ou não passar por um problema, fica potencializado por outro desejo, que é o de não sentir a emoção negativa.
Ficamos doidos desse jeito. Afinal, todos nós temos de fazer um esforço genuíno de dominar nossas emoções, ordená-las e não as deixar rodar o show.
Se você pensa que é fácil fazer isso, já lhe adianto, é fácil escrever o parágrafo anterior, fazê-lo é para os fortes. E se você não tem o desejo de se fortalecer, vai ficar a vida toda fugindo dos problemas e das emoções.
Por isso é importante saber qual o seu temperamento e quais as melhores estratégias que pode treinar para resolver ou suportar um problema, mas respeitando a sua natureza.
Para mim eu sempre penso no dia seguinte. Digo a mim mesmo: amanhã é outro dia, tenho de seguir em frente.
Às vezes, funciona; às vezes, preciso de mais tempo.
Portanto, seja generoso consigo mesmo.
As pessoas querem fórmulas fáceis, simples, dicas rápidas e isso tudo pode ficar bem em um post nas redes sociais, mas somente a quilometragem nos faz aceitar como a vida funciona; isto é, um dia de cada vez.
FAÇA PROPAGANDA DA CALMA
Em certa ocasião, minha esposa e eu fomos convidados a palestrar em um evento de networking. Ela falaria depois de mim. Entretanto, antes de nós houve um palestrante que atrasou o evento em uma hora.
Nos dias seguintes ao ocorrido, minha esposa descrevia assim a cena a nossos amigos:
– Estava eu lá, angustiada e aflita porque tinha um compromisso logo após o almoço e olhava para o Silvio, que parecia uma esfinge, imóvel e sereno.
Bem, na verdade eu também estava bastante preocupado e frustrado porque teria de encurtar minha palestra e tinha um compromisso logo em seguida.
Mas, dominar sua postura corporal, suas palavras e seu semblante é um grande treino para lidar com os problemas – principalmente se você for líder de pessoas. E era isso que eu estava fazendo.
Sei que você pode pensar que ser calmo significa sentir-se calmo. Mas, considere como uma possibilidade que uma pessoa calma é aquela que gera nas demais a experiência de serenidade.
Portanto, por mais difícil que seja a situação, procure não piorar o problema sendo descortês, descontrolado ou gritando com as pessoas.
Se você deseja dominar suas emoções precisa fazer um grande esforço para controlar a si mesmo, seus gestos, fala e postura.
E não pense que conseguirá fazê-lo sem treino e muita persistência.
A importância disso para o executivo, em particular, é que você sempre poderá gerir um problema, mas não há técnica para a gestão de surpresas.
Se você for alguém que não controla suas expressões faciais, sua fala e sua postura, quando alguém for entrar na sua sala porque precisa urgentemente comunicar-lhe um problema, vai olhar para você e pensar:
– Hi… hoje, não.
E voltar sem dizer-lhe sobre a questão em tempo hábil para você agir.
Portanto, por mais difícil que seja, aprenda a controlar-se.
Não creio que os próximos anos serão fáceis. A recessão que assola os Estados Unidos, a crise energética e a guerra na Europa, a escalada das tensões na Ásia e os sérios problemas políticos e econômicos em nossos vizinhos deverão reverberar por aqui também.
Este difícil cenário me lembra que Londres e outras cidades inglesas, durante a II Guerra Mundial, foram bombardeadas pelos alemães durante 8 meses seguidos, entre 1940 e 1941.
Entretanto, em 1939, já com a guerra no horizonte, o governo britânico, liderado por Winston Churchill, preocupava-se em incentivar a população por meio de mensagens curtas e motivacionais a se preparar para o que enfrentaria.
A primeira dessas mensagens, colocadas em grandes cartazes em pontos estratégicos, dizia:
“Sua coragem, sua alegria, sua determinação nos trarão vitória”
Já a segunda era:
“A liberdade está em perigo, defenda-a com toda sua força”
Mas, é a terceira, que nunca foi usada, que ficou famosa ao ser encontrada décadas depois na livraria Barter Books.
Não consigo imaginar, neste período em que vivemos, um acalanto melhor e uma orientação mais encorajadora do que esta mensagem para seguirmos:
“Mantenha a calma e continue”. O famoso slogan inglês, “Keep calm and carry on.”
Portanto, respire fundo e vamos em frente!
Silvio Celestino
Sócio-diretor da Alliance Coaching