NÃO ADIANTA APRENDER E NÃO USAR

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NÃO ADIANTA APRENDER E NÃO USAR

Para ouvir este texto, clique aqui: episódio 7 do podcast O EXECUTIVO

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Já reparou o quanto as pessoas são treinadas, fazem curso disso e daquilo, são alertadas sobre certos assuntos, certificadas a respeito e… não usam o que aprenderam?

À primeira vista, pode parecer falta de integridade, interesse ou atenção e, é claro, é uma decepção para quem treina – e para quem investiu no treinamento.

Mas, observo que, por vezes, a pessoa o faz sem perceber e não por má índole ou hipocrisia e sim por um outro fenômeno que falarei mais adiante.

Nesta semana, eu estava em um evento de tecnologia para educação e um dos focos era a questão da segurança de dados, com especial atenção à LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados.

Por se tratar de um evento com foco em tecnologia, era impossível para mim não notar os enervantes problemas na estrutura do próprio evento em fazer funcionar tecnologias básicas como: os microfones, a iluminação e o passador de slides.

Mas, quando o assunto era segurança no manuseio de dados, a platéia tornou-se um case a ser estudado.

Algumas pessoas estavam com seu notebook aberto e trabalhando enquanto o evento transcorria. Não sei se ligados ao Wi-Fi do hotel – que era uma rede pública. Mas, o que mais me deixava atordoado era ver que as pessoas simplesmente deixavam seus notebooks abertos e saiam da mesa.

Ou seja, os outros participantes conseguiam ver o que estavam fazendo, de quem recebiam mensagens, o conteúdo de planilhas abertas, enfim, o notebook estava ali, sem precisar sequer de senha para ser acessado.

E ainda havia pessoas tirando fotos do evento – e das telas dos computadores.

Se os participantes queriam mostrar capacidade de ser multi-task, na verdade acabaram por colocar em risco informações da empresa.

E isto acontecia no meio da palestra que exaltava as preocupações de segurança das tecnologias apresentadas.

Como as pessoas não conseguiam fazer a conexão de seu comportamento com o tema que estava ali, sendo mostrado bem à frente?

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Este problema não é necessariamente moral, mas da falta de consciência provocada por uma mente que sai de um assunto a outro, sem fazer conexões com a realidade.

É como se estivessem navegando na internet e lendo passivamente a um texto, depois a um post curto em uma rede e depois assistindo a um vídeo noutra e noutra. Mas, tudo sem uma ordem entre os assuntos e principalmente sem conexão com seus problemas, sua carreira, vida e momento presente.

Ou seja, a aquisição de conhecimento tornou-se uma distração, um entretenimento e não uma maneira de evoluir.

Ocorre, então, uma fragmentação da consciência que não consegue unir-se ao conhecimento adquirido.

Por isso que, no mesmo instante em que os indivíduos estão ouvindo sobre segurança de dados, estão indo ao toilette e deixando o notebook aberto em meio a um auditório, expondo dados da companhia sob sua responsabilidade.

Esta desconexão é endêmica.

Quer seja pela enorme quantidade de temas a que é submetida, quer seja pela complexidade deles, a maioria não percebe quando está sendo incongruente com o conhecimento a que teve acesso.

E mesmo altos executivos estão sofrendo com isso.

Ainda nesta semana, assisti à uma live de uma CEO que falava sobre a importância de criar um ambiente no qual as pessoas sentissem liberdade para questionar todos os assuntos e poucos minutos depois dizer que não podia permitir que as pessoas fossem contrárias à uma certa idéia.

E ainda dizia que era seu dever moral evitar essa discordância.

Entretanto, o conhecimento somente pode advir do exame de idéias contrárias. Quando alguém impede que elas surjam está na verdade tolhendo a inteligência das pessoas.

A unidade do conhecimento na unidade da consciência somente pode acontecer se esta última puder examinar o conhecimento, absorvê-lo e integrá-lo nela mesma.

E isto nem sempre é uma atividade rápida, fácil ou indolor.

Se entendermos a inteligência como a capacidade do ser humano de reconhecer a verdade, quando focarmos em ensiná-la sobre qualquer assunto, as pessoas gastarão menos tempo e energia para interiorizá-lo e integrar em sua consciência.

Isto significa: verdade conhecida, verdade assumida.

Por exemplo: se você aprende que 2+2=4 e aceita isso como uma verdade, não vai tentar fazer com que 2+2 seja igual a 5.

Do mesmo modo, se eu tenho 1,81m de altura não vou fingir que tenho 1,90m.

Se eu sei quais idéias funcionam e quais não funcionam, não vou tentar implementar as que não funcionam na marra.

E assim por diante.

Portanto, se quisermos que os profissionais realmente evoluam, precisamos ensiná-los e treiná-los com foco em conhecer a verdade sobre um tema e serem capazes de reconhecê-la quando a verem na realidade.

Se eu ensino para uma pessoa o que é água, mas ela está dentro de um copo, o meu propósito é que a pessoa seja capaz de reconhecer que o que sai da torneira, o que está no rio, no mar e o que está na chuva também é água.

Se cada vez que ela aparecer em um lugar eu tiver de ensinar de novo, eu não cumpri o meu propósito.

O mesmo ocorre dentro da empresa quando falamos de custo, resultado ou segurança de dados.

Ou seja, se o indivíduo não for capaz de reconhecer todas as situações nas quais uma realidade ocorre, eu não acrescentei conhecimento à consciência dele.

Foi exatamente esta situação que aconteceu com as pessoas que deixaram os notebooks abertos no evento mencionado no começo do texto.

Portanto, alguém responsável pelo desenvolvimento de profissionais deve preocupar-se em aprimorar a inteligência deles e sua consciência para absorver e adotar o que aprenderam.

E para diminuir o tempo, a resistência e a dificuldade para que isso ocorra, use sempre a verdade para ensinar qualquer tema.

Conte comigo para isso e vamos em frente!

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Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

www.silviocelestino.com.br

silvio.celestino@alliancecoaching.com.br

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