No filme “Grande demais para quebrar” – Too big to fail – Willian Hurt faz o papel do secretário de tesouro americano, Henry Paulson, que lutava para que a crise financeira de 2008 não congelasse o mercado de crédito dos Estados Unidos.

Em dado instante, ele olha pela janela e vê pessoas comuns na rua. Executivos com seus celulares andando apressados, mamães passeando com seus bebês, entregadores e carros circulando em um dia como outro qualquer.

Ele se espantava de ver que, no quotidiano, as pessoas não têm a menor idéia a respeito do mundo financeiro a que estão submetidas.

Lembrei dessa cena, nesta semana, porque enquanto o mercado acionário apresentava uma queda importante, a conversa com alguns de meus clientes se tornou bastante negativa.

Os assuntos ficaram entre a possível perda de emprego para uns, a queda de 30% nas vendas para outros e as dificuldades logísticas e de recebimento de clientes inadimplentes para muitos.

Estas conversas me fizeram lembrar do filme porque observo que mesmo altos executivos e empresários desejam apenas acordar cedo, trabalhar, cuidar de suas famílias, amigos e hobbies. Não querem saber da complexa origem dos problemas que vão pelo mundo.

E eles estão certos.

Mesmo para mim, as baixas temperaturas previstas para São Paulo na próxima semana, me recordam que é o momento de pensar no frio da cidade de Gonçalves, interior de Minas, e em nossos amigos que pretendemos visitar no feriado de Corpus Christi, enquanto curtiremos, minha esposa e eu, a comida e as paisagens da região.

SURREAL

Entretanto, o quadro se torna surreal quando contrastamos estes pensamentos com as notícias que vêm da Inglaterra, do Sri Lanka e de Xangai.

A Inglaterra foi um dos países que abraçou com maior severidade os lockdowns para conter a disseminação da gripe. Agora as pessoas estão sentindo a falta crescente de itens indispensáveis nos supermercados.

No Sri Lanka, acabaram as reservas internacionais e, portanto, o país não tem mais dinheiro para comprar energia. Sem energia, sem economia, é simples assim. Não há mais nada no país que funcione e o povo está em revolta nas ruas.

Já em Xangai, a política de gripe zero do governo comunista chinês trancou 26 milhões de pessoas em suas casas na cidade que possui um dos principais portos do mundo. O congestionamento de navios que aguardam para atracar é imenso.

Estes eventos mostram a importância de se ter uma boa cultura geral para compreender as idéias que afetam nosso tempo, suas origens e consequências. Mas, também para se ter novas idéias.

O PODER DO EXECUTIVO É INTELECTUAL

Um executivo nada mais é do que um líder intelectual que tenta, principalmente por suas palavras, convencer pessoas a fazer o que ele precisa que seja feito para cumprir os propósitos da empresa.

Portanto, se ele souber o quadro que enfrentará nos próximos meses e anos, será capaz de escolher as melhores ações para evitar, minimizar, sobreviver ou mesmo se beneficiar de problemas e crises.

Entretanto, minha experiência me diz que há um sofrimento ao se olhar para este quadro futuro e que nem todos estão dispostos a encarar.

Vamos ver se acontecerá com você também ao ler o próximo parágrafo.

Quando tento mostrar que nossos problemas começam, por exemplo, com a idéia de que tudo se resolve com dinheiro, as pessoas se desinteressam e sentem-se desconfortáveis com a verdade de que terão de procurar soluções de outro modo, ou em outras esferas de suas vidas.

Tradução: precisam ler mais.

VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI?

O escritor Hugo von Hofmannsthal dizia que ‘Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura’.

Na verdade, não é apenas na política, as pessoas somente conseguem agir em acordo com o menu de pensamentos que possuem. Assim, por exemplo, um baralho de 52 cartas possibilita inúmeros jogos diferentes, mas todos eles estarão limitados a este número de “idéias”.

É por isso que Leibniz dizia que “será mais inteligente a pessoa que tiver visto mais figuras na infância”. Ou seja, aquela que conhecer mais signos, significados, referentes e, portanto, mais idéias.

Por este motivo é importante refletir sobre o pensamento de que tudo se resolve com dinheiro. Com certeza sua origem está em algum livro, ou conjunto de livros que, mesmo que não tenham sido lidos pela maioria, são a sua origem.

Uma implicação importante a respeito disso é que: quem controlar a emissão e circulação da moeda terá um poder absoluto sobre as pessoas.

Lembre-se que idéias não se disseminam por mágica. Elas precisam ser registradas e propagadas entre indivíduos.

E, por favor, não me leve a mal, não é uma crítica a este pensamento, apenas observe que, neste momento, mesmo que você tenha muito dinheiro para fazer compras na Inglaterra, a prateleira do supermercado estará vazia. Você pode até apelar para o mercado negro, mas ele também precisará do produto existir para funcionar.

Não acredito que esta situação fique tão dramática no Brasil porque somos um país com enorme produção de alimentos, commodities e temos energia. Mas, ainda assim, teremos momentos difíceis.

Não escrevo isso para desanimá-lo. Muito pelo contrário, aproxime-se de setores relacionados ao agronegócio, à logística, ao governo, à energia e infraestrutura. As maiores oportunidades estarão nesses setores.

Apenas convido você a refletir que, para que você possa trabalhar, cuidar de sua família, amigos e hobbies, todas as demais pessoas precisariam fazer isso também. Entretanto, vivemos em um mundo onde há indivíduos que acordam e vão dormir e só pensam em uma coisa: como ter poder.

Se souber quais pensamentos eles seguem, compreenderá melhor as ações deles e não será surpreendido com suas consequências no mundo, no país, no seu mercado, na sua empresa e consequentemente, na sua carreira e vida.

É com essas informações que poderá ter novas idéias para planejar melhor e conhecer as alternativas que possui para atingir os resultados que tanto precisa.

E elas vêm da leitura de livros ou de encontrar alguém que conte para você o que tem dentro deles.

Se você chegou até aqui, conte comigo para ajudá-lo nisso.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching