COMO ENFRENTAR O PROBLEMA DA DESMOTIVAÇÃO EM ALTA

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COMO ENFRENTAR O PROBLEMA DA DESMOTIVAÇÃO EM ALTA

Eu conversava com um executivo do interior do Brasil sobre a importância da clareza do propósito para a orientação das ações e da motivação na empresa quando, em dado instante, ele me disse que descobriu qual era a principal motivação de seus subordinados:

Era não perder o emprego.

Havia um certo desalento em sua voz pois seus motivadores principais estavam na aquisição de conhecimento, na solução de problemas e nas mudanças – neste caso, naquelas que promoviam progressos e melhorias contínuas.

Por isso, ele considerava muito pobre a idéia de uma pessoa trabalhar fazendo o mínimo necessário para não ser demitida. Ou seja, sem outras ambições, sem desejo de aprender ou de encarar um desafio.

Infelizmente, esta situação não está acontecendo somente entre seus subordinados.

TRABALHANDO PARA NÃO SER NOTADO

Esta conversa me lembrou um faxineiro que vi, certa vez, na sede de uma empresa de varejo.

Ele empurrava um daqueles carrinhos cheios de apetrechos para limpeza, andava devagar, com o olhar baixo e, de tempos em tempos, levantava a cabeça para certificar-se de que ninguém estava olhando para ele. Movia-se de maneira lenta, mas fazia seu trabalho com exatidão, procurando não chamar a atenção e continuava a se mover em direção ao próximo departamento, com repetido cuidado para não ser notado.

Essa imagem sempre me pareceu icônica como a do funcionário cujo único desejo é que ninguém o tire dali.

NÃO QUERER SER DEMITIDO É UMA MOTIVAÇÃO VÁLIDA

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Antes que você pense que condeno esta motivação, creio que o problema aí está no meio e não no objetivo desejado.

Já tive o mesmo interesse, isto é, não ser demitido.

Em 1986, eu estava no início de minha carreira. Entretanto, o mercado de tecnologia estava em alta e eu não percebia que havia uma crise no país. Foi então que, naquele ano, meus dois irmãos e minha mãe perderam o emprego.

Pela primeira vez percebi que, se eu também perdesse o meu trabalho, minha família passaria necessidades. É aquele momento em que cai a ficha de que a vida é séria e pessoas dependem de você.

Naquele ano, eu estava decidido a não perder o emprego por nada desse mundo. Qualquer coisa que meu chefe me pedia, eu fazia. Sempre que necessário, trabalhava muito além das horas esperadas e sem feriados – inclusive carnaval. Não queria dar a mínima margem para ser demitido.

Funcionou. Somente saí da empresa 7 anos depois para montar meu próprio negócio.

Então, o problema em si, não é você não querer ser demitido, mas fazer o mínimo necessário para que isso aconteça. Pois aí você fica em uma linha muito tênue, onde qualquer deslize ou mudança de contexto o coloca na primeira posição da lista dos dispensáveis.

A DESMOTIVAÇÃO NA MÉDIA GERÊNCIA

O problema da desmotivação está também presente na média gerência. O artigo do Valor Econômico, “Média Liderança sai mais desmotivada da pandemia”, fala sobre este problema como um alerta para as empresas.

O texto relata que, em um evento realizado no começo do mês, os diretores de RH de grandes empresas e startups, se preocupavam em avaliar qual o melhor treinamento ou ação para motivar seus gestores em níveis intermediários.

A média gerência sente-se pressionada ao transmitir os comandos dos diretores para os subordinados que, assim como ela, estão extremamente desgastados após esses anos de pandemia.

O problema aí não está apenas em definir o treinamento, mas em fazer algum treinamento. Afinal, no ano de 2021, a queda nos orçamentos de desenvolvimento nas empresas chegou a 60% em relação ao ano de 2020, que foi baixo. O que está acontecendo, portanto, é consequência deste fator, já que a média gerência é a que mais precisa de desenvolvimento.

NÃO ESTÁ FÁCIL PARA NINGUÉM

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Se você pensa que em outros países a vida está mais fácil para os departamentos de RH, neste artigo do Zerohedge – “Número recorde de americanos que pedem demissão” – vemos que se trata de um fenômeno mundial.

Estariam as pessoas estressadas e repensando suas carreiras e motivadores individuais?

A situação é tão séria que até mesmo os CEOs estão enfrentando tempos difíceis, como relata este outro texto do Zerohedge – “CEOs estão deixando seus trabalhos em ritmo recorde” – que também mostra que as empresas estão reavaliando seus programas de retenção de talentos e se preparando para tempos difíceis.

Os CEOs não estão sendo poupados, mas muitos estão simplesmente pedindo demissão.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Não há um estudo conclusivo a respeito desses eventos. Entretanto, como mentor e coach, é evidente que os bastidores nos dão algumas pistas do fenômeno e que não têm como ser relatadas em artigos da imprensa.

A perspectiva é ampla, mas é possível de observá-la pelas queijas que os executivos fazem quando se sentem seguros para se expressarem.

O primeiro elemento é que não houve o preparo necessário dos gestores para enfrentar o estresse provocado pelo confinamento dos profissionais em suas casas.

Como alertei neste vídeo em julho de 2020 – Covid 19 e a liderança executiva – nada causa mais estresse em um indivíduo saudável do que o confinamento.

Para que este problema não se repita, ao final do texto alerto sobre o que vem por aí para que os executivos possam se preparar.

O segundo elemento é que há um foco disperso em temas irrelevantes ao core business das empresas e que não inspiram a ninguém.

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Quando temas estranhos ao mundo empresarial começam a permeá-lo, observo que as pessoas, por medo de serem criticadas, preferem buscar lugares onde possam ser mais livres para se expressarem. E estes lugares estão cada vez mais longes das grandes empresas.

Este problema não ocorre somente para os empregados, ele começa a afetar a captação de recursos já que até mesmo a maior gestora de ativos do mundo, BlackRock Inc., começa a rever seus investimentos em empresas que estão exagerando no foco em idéias politicamente corretas, mas que deixaram tais temas descambarem internamente para um ativismo prejudicial às operações e à lucratividade.

Investidores querem lucros, não lacração.

Do mesmo modo, a carreira é o investimento do profissional. Se ele percebe que para ter retornos precisa se submeter a ambientes estranhos, a falar sobre temas que não deseja e a considerar fatores que não são contributivos para a melhoria de produtos, processos e serviços sob sua responsabilidade é evidente que ele preferirá sair da empresa.

Quem gosta de trabalhar com carros deseja falar sobre carros.

Quem gosta de trabalhar com computadores deseja falar sobre computadores.

Se já é difícil para o RH fazer um profissional técnico se interessar por temas de liderança, imagine fazê-lo se interessar por toda essa miríade de assuntos que dizem muito pouco para a maioria das pessoas, não importa quão frequentes sejam na mídia.

FOMENTANDO A FALSIDADE

O resultado disso é que os profissionais se sentem forçados a participarem de treinamentos e ações que não lhes interessam e o fazem somente para cumprir tabela.

Eles se sentem em um ambiente onde há hipocrisia e somente quem tem estômago para isso consegue manter-se por mais tempo na organização. Não é, portanto, de se estranhar ser o motivador “não perder o emprego” tão frequente.

Não é possível querer um ambiente autêntico e motivador neste contexto.

Acrescente-se a isso o excesso de trabalho provocado por equipes incompletas e temos uma perspectiva que faz com que a desmotivação esteja em alta nas empresas.

SAÍDA PELO DESENVOLVIMENTO

Sim, há uma saída, e ela começa com retomarmos o foco dos negócios e termos mais diálogos que dizem respeito a eles. Afinal, empresas lucrativas conseguem fazer mais por seus acionistas, empregados e pela comunidade.

Para aqueles que têm como motivador não perder o emprego, sugiro que se interessem mais por outras formas de como fazê-lo: ser protagonista, proativos, solucionador de problemas, buscar capacitação e atualização, por exemplo.

Devido à juniorização dos gerentes, para eles os RHs devem fornecer primeiro os treinamentos mais focados nas competências base de liderança como: comunicação, delegação, follow-up, feedback, motivação de pessoas e gestão de agenda.

Afinal, quanto melhores forem nas competências de base, melhores preparados estarão para desenvolver àquelas mais sofisticadas e que os ajudarão a gerir conflitos, lidar com pessoas estressadas e com problemas de burnout, além de terem como atingir alto-desempenho, resiliência, ser anti-frágil e estratégico.

Também insisto para todos se interessarem pela cultura geral, e isto inclui conhecer as notícias que vão pelo mundo fora da mídia popular, suas origens e como elas afetarão o país, o seu mercado, sua empresa e, consequentemente, sua carreira e vida.

Todos nós temos de assumir nossas responsabilidades perante nossas empresas e famílias diante dos enormes desafios que nos esperam. A saber: o recrudescimento da inflação, a possibilidade do conflito na Ucrânia espalhar-se, as crises de energia e alimentos, e novas pandemias.

Este cenário exigirá grande musculatura executiva e empresarial, além do senso de dever.

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Mas, não quero que pensem que um cenário tão adverso seja desanimador, pelo contrário.

Para aqueles que desejam fazer algo marcante, relevante e inspirador com suas vidas, o futuro trará um contexto ideal devido a desafios tão complexos.

Recomendo que assistam ao filme: “A felicidade não se compra” – de Frank Capra. Os próximos anos podem ser tão parecidos quanto os enfrentados pelo protagonista – mas o final pode ser tão encantador quanto o do filme.

Do mesmo modo que ninguém adquire musculatura física começando a levantar as anilhas de 40 Kg, o acréscimo paulatino de cultura geral irá potencializar o treino para a liderança que deve ser feito em etapas estruturadas e contínuas.

Mas, lembre-se que a empresa não pode ser responsável por todo o seu preparo – você precisa se diferenciar investindo em si mesmo.

O resultado deve ser uma musculatura executiva capaz de fazer frente aos desafios dos próximos anos, de maneira a torná-los oportunidades para os melhores resultados não apenas para a empresa, mas para sua carreira e vida.

Conte comigo no que precisar para isso.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

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silvio.celestino@alliancecoaching.com.br