SOU JOVEM, POR QUE NÃO SOU PROMOVIDO A GERENTE?

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SOU JOVEM, POR QUE NÃO SOU PROMOVIDO A GERENTE?

No filme “Gênio Indomável” (1), o ator Robin Willians interpreta Sean Maguire, um psicólogo que tenta ajudar um gênio da matemática, Will Hunting – interpretado por Matt Damon – a dominar suas emoções.

Will é realmente indomável e em meio aos esforços de Sean para conquistar sua confiança, Will vê na parede do consultório de Sean um quadro de um pequeno barco em meio a ondas turbulentas. Neste momento, Will faz toda uma análise psicológica a respeito de Sean, invertendo os papéis. Sean fica furioso e chega a pegar Will pelo pescoço. (2)

Neste momento, a ação é interrompida, Will vai embora enquanto Sean fica a contemplar o quadro com um olhar profundamente triste.

No dia seguinte, Sean, recomposto do que acontecera na véspera, recebe Will em um parque. Ambos estão sentados em um banco a frente de um lago e Sean diz mais ou menos o seguinte:

– Somente agora percebi que você é um jovem e que não tem experiência de vida. Pode falar sobre muitas coisas, mas não as viveu. Pode falar sobre relacionamentos, mas não sabe o que é perder o grande amor de sua vida. Pode falar sobre a Capela Sistina, mas nunca esteve embaixo dela e sentiu o cheiro de suas tintas.

Esta cena sintetiza o principal motivo pelo qual um jovem com excelentes resultados não pode ser promovido automaticamente a um cargo de liderança.

O DILEMA DO CHEFE: QUANDO PROMOVER?

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Na verdade, o momento mais apropriado para promover alguém é uma incógnita que envolve tanto perspectivas objetivas, como o resultado atingido; quanto subjetivas, como a maturidade do profissional.

Para a empresa, não é tão difícil assim determinar os números que informam que um objetivo foi atingido.

Mas, as perspectivas subjetivas são compostas por aspectos de difícil descrição: domínio emocional, capacidade de ouvir feedbacks, relacionamento interpessoal, imagem e postura em reuniões e eventos relevantes, entre outras.

Já vi um coordenador pedir demissão porque a empresa possuía um indicador chamado “gestão de pessoas”, no qual ele tinha nota máxima, mas não era promovido porque o RH insistia que ele precisava aprimorar sua gestão.

De fato, existem temas que são muito difíceis, se não impossíveis, de serem colocados em palavras ou números.

Goethe dizia que sabia o que era o tempo, até que alguém lhe pedisse que explicasse.

Assim são muitas coisas na vida e você não precisa ser um filósofo para chegar a essa conclusão. Experimente explicar a alguém como manter o equilíbrio em uma bicicleta ou a fazer o nó numa gravata e verá que as palavras possuem sérias limitações em ambos os casos.

O indivíduo perceber essas coisas inexplicáveis à sua volta é um bom indicativo de que ele pode estar pronto para ser promovido. Claro que ainda deve aguardar o contexto apropriado.

NÃO DISCUTA COM JOVENS

A experiência real e a subjetividade de certas questões tornam impossível explicar ao jovem o que ele conhece somente conceitualmente.

Certa vez, a executiva de um banco aceitou uma proposta para trabalhar em uma mineradora. Com sua mentalidade de foco no resultado e no crescimento rápido da carreira, com 32 anos queria a todo custo ser a gerente de um departamento de uma das minas – originalmente ela ficava na sede da empresa, na capital do Estado.

Não havia como convencê-la de que ela precisava de mais experiência até que, em determinado momento, em meio a uma reunião de coaching, perguntei a ela: por que tanta impaciência para a promoção?

Afinal, ela estava há pouco tempo na empresa.

Ela respondeu que já tinha experiência o bastante e que gostava de desafios novos e queria subir rapidamente – como acontecera no banco.

– Você já viu uma pessoa morrer? Perguntei.

Ela ficou em silêncio. Eu perguntara aquilo porque naquela semana havia treinado um executivo que teve de lidar com a morte de dois profissionais seus em uma mina no exterior.

A resposta dela foi:

– Mas eu ficarei somente com a parte administrativa.

Como sou administrador, fiquei pensando no que ela imaginava que fosse a “parte administrativa”.

Um dos problemas de você discutir com jovens é esse: eles não conhecem a vida real, então transformam tudo em uma lógica e discutem a lógica. Ou seja, é uma discussão que neste âmbito é impossível de ser vencida. Por este motivo, evite discutir com um jovem.

Não é difícil uma empresa que possui 7.000 profissionais substituir a perda de um deles em um acidente. Afinal, logicamente falando, não é uma perda numericamente expressiva.

Diga isso para a mãe do profissional e veja que a situação não é tão lógica assim.

Cada indivíduo na empresa é filho, pai, mãe ou irmão de alguém. Se você não compreende que o primeiro objetivo de cada dia é fazer com que todos voltem para casa, então você não entende nada sobre gestão de pessoas.

E esses assuntos não são interessantes aos mais novos, que são muito focados em si mesmos.

TREINE VIRTUDES

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Por alguma razão houve uma desestruturação da passagem do conhecimento em nossa sociedade.

Quando vejo jovens de 20 ou 30 anos fazendo discursos, dando palestras e falando sobre temas complexos com muita emoção, muitos números e pouco conteúdo real, vejo que estamos invertendo os papéis de quem deve ensinar quem em uma sociedade saudável.

Para piorar, nossas universidades foram tomadas por uma agenda estranha à passagem do conhecimento verdadeiro. Muitos professores estão mais interessados em formar indivíduos com “visão crítica”, do que sabedores da verdade.

É comum ouvir um jovem executivo dizer, com ares de obviedade, “cada um tem sua própria verdade”. Sem se dar conta de que seu desejo é que esta seja uma verdade para todos e não somente para ele.

Ter experiência leva tempo e sua essência é formada por virtudes como a fortaleza para suportar duras provas, justiça para ter equilíbrio em suas decisões, temperança para lidar com a dinâmica dos contextos empresariais e paciência para esperar o melhor momento para agir – ou ser promovido.

Sem isso é muito difícil uma empresa lhe dar a responsabilidade por pessoas.

Na prática, tenho visto a juniorização da gerência causar sérios danos aos negócios.

Enquanto escrevo este texto, a guerra entre Ucrânia e Rússia avança, a inflação aumenta em escala global e uma crise financeira de grandes proporções fica cada vez mais próxima.

Como os novos gerentes lidarão com um contexto tão preocupante e desafiador com tão pouca experiência e conhecimento verdadeiro?

É por isso que a formação constante de novos líderes, a passagem de conhecimento, de experiência e a preocupação de todos pela busca da verdade são fatores fundamentais de sucesso, não apenas da empresa, mas do país.

Se águas turbulentas nos esperam, eu acrescentaria a virtude da coragem na lista do que nós devemos transmitir aos jovens.

Todas essas virtudes têm a função de ordenar o pensamento, as emoções e as ações dos mais novos para que eles possam amadurecer sadiamente.

São elas, e não somente o conhecimento lógico, que fazem o profissional estar preparado e pronto para ser promovido com segurança para si e a empresa.

Saiba fomentá-las e conte comigo para ajudá-lo nisso.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

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silvio.celestino@alliancecoaching.com.br

WhatsApp (11) 98259-8536

(1)   Nome em inglês: Good Will Hunting – https://www.adorocinema.com/filmes/filme-363/

(2)   A cena do barco é esta aqui: https://www.youtube.com/watch?v=GCZ72wn_ELQ