Para ouvir este texto, clique aqui: Podcast O EXECUTIVO
No artigo anterior eu falava sobre a dificuldade de ver coerência entre o que via no palco de eventos e a realidade.
E questionava o porquê de você ter de ser coerente.
Mas, um dos comentários sobre o texto foi bem direto: soluções, por favor?
É claro que, ao ler um texto como aquele, imagino, pela repercussão, que muitos se identificaram com a mensagem e são capazes de apontar a distância que existe entre o discurso de muitos e a realidade.
E, é claro que a maioria deve estar no seu esforço, por vezes solitário, por vezes falho, de ser coerente entre o que diz e o que faz.
Entretanto, quando a incoerência se torna sistêmica, me parece que há algo a ser descoberto.
É URGENTE TER PACIÊNCIA
Entretanto, o mundo executivo é um mundo de soluções rápidas. Afinal, o lucro tem de ser distribuído no fim do mês, do trimestre e… opa! É dezembro! Hora de distribuir o bônus anual!
Com todos focados o tempo todo em dar um sprint final para conseguir um lucro a mais, é difícil imaginar que alguém esteja genuinamente focado em ser coerente, exceto com o dinheiro, é claro.
Quando desenvolvo executivos vejo a enorme pressão a que são submetidos para os resultados do curto prazo e sempre alerto sobre a necessidade de suas decisões serem coerentes com o equilíbrio dos resultados de curto e longo prazo.
Afinal, se o seu problema é no curto prazo, você tem um pouco mais de liberdade para agir, mas, no longo prazo, é a moralidade de suas ações que determinará o lucro, ou prejuízo, inclusive de sua imagem – vide caso Americanas.
E justamente quando falamos de problemas com a magnitude deste referente à moralidade das pessoas que não podemos querer pular em soluções rápidas, mas precisaremos passar por etapas até chegar à verdadeira solução.
HUMILDADE
Precisamos começar com humildade, e ela significa você reconhecer o que sabe sobre um assunto e o que não sabe. Isto é, o que lhe falta saber.
Idealmente falando, você deveria fazer um mapa de sua ignorância antes de estudar qualquer tema. Principalmente, fazer uma pesquisa de livros que abordam o assunto e que falta você ler para compreendê-lo melhor.
Assim, aos poucos, você vai passar os livros da coluna “não sei e falta saber” para a coluna “sei”.
PARE DE PERGUNTAR “COMO RESOLVO ISSO”?
O segundo ponto que sugiro você questionar é a sua maneira de abordar os problemas.
Em vez de perguntar “como resolvo isso”? Comece a perguntar: “O que devo considerar para resolver esse problema?”
Assim você pára de usar fórmulas mágicas e começa a compreender que contextos diferentes exigem soluções diferentes.
Além disso, para a decepção de nós, executivos, que temos soluções para tudo, há problemas que não possuem solução.
Ou seja, o que é possível fazer é diminuir o problema, afastar, minimizar, aprender a conviver com ele ou, no pior dos casos, aceitar que não há o que fazer.
Pense nas pessoas de sua família que você já tentou mudar por anos, talvez décadas, e entenderá o que estou querendo dizer.
VOCÊ VÊ O MESMO QUE EU?
Um ponto fundamental é você ser capaz de descrever o que está vendo e compartilhar.
É onde me encontro na maioria dos temas que convido a você refletir.
No fundo, o que estou perguntando em todos os meus textos é: você está vendo o mesmo que eu?
Não estou propondo nenhuma solução, nem levantando nenhuma bandeira, estou apenas querendo saber se você vê o que eu estou vendo.
Em muitos casos, questionando idéias e pressupostos antes de querer solucionar algo.
Por exemplo, você acha mesmo que o clima é algo que pode ser abordado como um objeto?
Muitos vêem problemas como se estivessem fora dele e, no entanto, estão tão perdidos como nós e apenas são mais caras de pau de falar como se soubessem de algo que nós, pobres mortais, não conseguimos compreender. Mas, eles são os iluminados que generosamente vão nos salvar e é claro que, para isso, ficarão com nossos tributos.
Foto: Flávio Muniz, Sócio-Fundador da Figtree Capital, no podcast do Canal O EXECUTIVO
CONSULTE OS SÁBIOS
Será que nossa geração é a primeira que teve de lidar com os graves problemas que vivenciamos?
Não há nada que Aristóteles, Leibniz, Eric Voegelin, ou Louis Lavelle, por exemplo, possa nos dizer a respeito deles?
Aqui começa o desânimo de muitos pois ler uma quantidade grande de livros está fora de moda.
USE A LINGUAGEM CERTA
Mas, é a partir de muita leitura que conseguiremos começar a usar a linguagem certa para descrever os fenômenos que nos rodeiam.
Se não fizermos isso, continuaremos a usar a linguagem de nossos inimigos, isso é, daqueles que provavelmente são responsáveis por fomentar o problema e que não desejam que você seja capaz de descrevê-lo com precisão.
Afinal, se o fizer, pode ser que descubra na raiz dele um projeto de alguém ou de um grupo de pessoas e isso pode dar um problema danado para elas.
Você acredita mesmo que nossa educação é tão ruim por mero acaso?
ESCREVA
A partir do momento que você tiver a linguagem certa, é hora de começar a escrever sobre o tema. A escrita é fundamental e não importa quantos vídeos ou podcasts existam, a escrita é a única forma estabilizada de uma idéia.
Portanto, se você for um amante da verdade, ao escrevê-la, abre a possibilidade para que todos tenham a mesma impressão, mas convertida em palavras que, quando lidas, evocam a mesma experiência em todos.
Isto é, todos sabem do que você está falando.
SOLUÇÃO
Somente a partir daí é que teremos condições de saber a respeito do quê estamos realmente conversando, se há solução ou um conjunto de soluções e o que devemos levar em conta para implementá-las.
VOCÊ NÃO ESTARÁ VIVO PARA VER
É evidente que muitos dos problemas brasileiros que vivenciamos somente podem ser solucionados ao longo de 50 anos ou mais.
O nosso desejo de vermos a solução deles, nos faz querer queimar etapas e nos afasta de sua solução.
Portanto, se começarmos agora a falarmos sobre a verdade a respeito dos problemas e pacientemente estudar e começar a escrever algo que faça sentido, pavimentaremos a estrada que levará as gerações futuras à sua solução.
VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO
Lembre-se que você não consegue construir um edifício a partir do sexto andar, você terá de colocar as fundações primeiro e pacientemente construir um pavimento de cada vez. É assim com um prédio, é assim com a solução dos grandes problemas.
Mas, que benção é você poder fazer parte disso diligentemente fazendo o papel que lhe cabe.
Afinal, cada tijolo em uma catedral é catedral também. Encontre a sua posição e persevere. Você verá que a obra não é capaz de ser feita sem você, por mais solitário que se sinta.
Não, definitivamente você não está sozinho!
É por isso que sempre termino meus textos dizendo: Vamos em frente!
Foto: Flávio Muniz, Sócio-Diretor da Figtree Capital e Silvio Celesitno
Silvio Celestino
Sócio-diretor da Alliance Coaching