PRIMEIRO FIQUE INTELIGENTE PARA DEPOIS TER SUCESSO

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PRIMEIRO FIQUE INTELIGENTE PARA DEPOIS TER SUCESSO

Certa vez, procurava por um pintor para minha sala de jantar e varanda e recebi a recomendação de um que, segundo me diziam, era dos melhores.

Após esclarecer como queria que o trabalho fosse feito, deixei o profissional com seu auxiliar e fui trabalhar. Ao retornar, vi que algumas regiões do teto não estavam bem pintadas e que exigiriam uma segunda camada de tinta. Quando falei a ele a respeito a resposta foi:

– Ah, é…

No dia seguinte, ele passou a segunda mão de tinta. Mas, qual não foi a minha surpresa de ver que pintara as caixas acústicas embutidas no teto. Ao reclamar de que deveria remover a tinta das caixas a resposta foi:

– Ah, é…

Terceiro dia, ao chegar em casa, vejo que a tinta sobre as caixas acústicas havia sido removida, mas ao seu redor ficaram manchas escuras e marcas de dedos no teto. Chamei sua atenção a respeito e a resposta foi:

– Ah, é…

Finalmente o serviço ficou completo.

Como é possível este ser um dos melhores pintores?

O FINGIMENTO É SÓ PARA INICIANTES

Na verdade, ele estava fingindo ser um pintor.

Embora fingir não seja algo desejável, é normal para um principiante e, evidentemente, um desastre para o profissional maduro.

Quando você é iniciante em um cargo, fingir é uma estratégia de sobrevivência.

Por exemplo, um profissional acabou de ser contratado como gerente de contas e está na reunião de business plan com outros gestores mais experientes. É claro que suará frio.

Ele, então, observa como os demais falam, o que focam e procura copiar suas preocupações. Mas, sabe que, numa escala de 0 a 10 de excelência, os gerentes mais experientes estão no nível 10 e ele está, no máximo, no 5.

Então, o que faz? Idealmente falando, aproveita as noites, os finais de semana e até mesmo o horário de almoço para estudar, para tornar-se um executivo tão bom quanto seus pares.

Isto é o que fazem profissionais do mundo todo. Ou seja, pensam assim: se fui contratado para uma posição, faço um esforço genuíno, constante e permanente para progredir e, depois de chegar no mesmo nível dos demais, mantenho-me atualizado e me desenvolvendo até o fim da carreira.

Analogamente, é por isso que, ao ver os grandes trabalhos dos maiores artistas, em geral as obras-primas foram feitas na maturidade.

Entretanto, este comportamento de aprimoramento constante em busca da excelência não é fomentado e aceito no Brasil.

Aqui, muitos profissionais acreditam que são algo porque foram contratados como tal. Ou seja, eles pensam assim: “sou gerente porque fui contratado como gerente”. Ou, “sou diretor porque fui contratado para este cargo.”

É como se o crachá tivesse o poder mágico de infundir-lhes conhecimento e competência.

A consequência é que, aquilo que deveria ser o ponto de partida é, para muitos, o de chegada.

Mas, ninguém se transforma em um profissional de excelência porque recebeu um cargo ou um certificado.

Na verdade, em um olhar mais atento, observamos inúmeros problemas e crises, não só nas empresas, mas no país, que estão sendo geridas por profissionais diplomados em universidades renomadas. Entretanto, o resultado é o que você vê a sua volta – com frequência desastre sobre desastre, uma crise na sequência da outra.

É evidente que estas pessoas não são na realidade quem se autodeclaram.

QUAL PROFISSIONAL CONDENA TODA UMA SOCIEDADE?

Se um pintor, ao fingir ser o que não é, gera muitos problemas, imagine um executivo, um juiz ou um médico fazê-lo e as consequências.

Mas, você já parou para pensar que existe um profissional que, se fingir ser o que não é, condena toda a sociedade à mediocridade e ao erro?

Este indivíduo existe: é o professor.

Se uma sociedade possui professores que estão fingindo ser o que não são, então estará perdida, pois eles formarão profissionais deficientes em todas as áreas.

As empresas sofrem diretamente as consequências deste grave problema porque as universidades não formam profissionais com um nível mínimo de conhecimento, competência técnica, cultural e comportamental requeridos para serem contratados.

Também é estranho observar que as companhias não fazem a censura às universidades com a devida severidade.

Antes que você pense que isto é um problema exclusivamente nosso, o mundo não está em situação muito melhor. É só ver como a pandemia e a economia estão sendo geridas pela OMS e pelo banco central americano, respectivamente.

Tenho certeza de que os diretores dessas organizações são formados em Harvard, MIT, Oxford, Stanfort etc. E, no entanto, vejo com preocupação as evidências que mostram sua incapacidade de resolver os complexos problemas sob sua responsabilidade e as que demonstram sua má índole e interesses escusos.

O MAPA DA IGNORÂNCIA

Sair da situação de parecer um ator que finge ser o que não é e passar a ser um profissional de excelência é uma decisão da consciência e, portanto, individual.

Conscientemente o executivo deve perceber para cada área de seu interesse o que ignora e fazer um esforço diário, contínuo e permanente de passar a conhecer.

Para isso, a ferramenta mais produtiva é desenhar o seu mapa de ignorância.

Este mapa é formado pela coluna do que ela já sabe sobre um determinado assunto e outra sobre o que lhe falta conhecer.

Isto é feito de maneira mais profissional por meio de livros. Ou seja, quais livros você já leu sobre o tema e quais falta ler para responder às questões relevantes sobre o assunto.

O objetivo aqui é conhecer a origem do tema, as correntes de idéias que o cercam e quais as diversas fases das discussões a respeito dele até chegar ao momento atual da investigação, ao status quaestionis.

A partir deste ponto você estará na mesma conversa que os melhores da sua área estão.

A LIDERANÇA INTECTUAL.

A liderança pode ser exercida pelo poder do dano, do dinheiro ou do intelecto.

O dano é usado pelas forças armadas e policiais, porque precisam combater os inimigos e criminosos que usam este mesmo poder para seus interesses.

O dinheiro é, na verdade, mais um meio de comprar poder – do dano ou intelectual – do que um poder em si.

Finalmente, o poder intelectual é aquele que nos permite fazer com que as pessoas façam o que precisamos por meio de nossa palavra.

Embora a liderança pelo poder do dano tenha a aparência de ser a mais relevante, é o poder intelectual que tem duração pelos séculos. Por exemplo: compare quanto tempo durou a liderança de Hitler em relação à de Jesus.

A liderança executiva também é uma liderança intelectual. Portanto, adquirir conhecimento, conceitos e, é claro, as melhores práticas deve ser o foco do desenvolvimento de todo executivo.

Tenho clientes que são gerentes e excelentes intelectuais e que estão desenvolvendo suas observações, idéias e conclusões por consciência de que, se quiserem melhores gestores brasileiros, têm de tomar as rédeas da busca pelo conhecimento e da verdade.

Você pode pensar que este estudo é reservado a professores, mas, experimente observar as profissões de filósofos como Platão (1) e Leibniz(2). Ou de escritores como Guimaraes Rosa (3).

Ser intelectual não é ser alguém sacado da sociedade e que vive em uma redoma. Pelo contrário, os grandes pensadores extraíram suas conclusões da experiência da realidade em suas áreas de atuação e de seu interesse em resolver problemas.

E resolver problemas é a vida de um executivo.

Portanto, quanto mais você desenvolver sua inteligência, maior sua capacidade de fazê-lo.

Não dá para resolver primeiro todos os problemas da sua vida, ser promovido a diretor, ganhar muito dinheiro, viajar e investir para aposentadoria, para depois ficar inteligente.

A sequência é a inversa: você deve esforçar-se para ser cada vez mais inteligente para ter cada vez mais capacidade de resolver seus problemas.

O que tenho visto é pessoas que fazem de sua vida e carreira um pau de sebo. Chegam ao topo sem musculatura intelectual e moral, e perdem seu sucesso ao longo do tempo.

Portanto, primeiro a inteligência, depois a solução dos problemas. É claro que é preferível você ter um mentor para auxiliá-lo. Mas, nem sempre temos os recursos para isso. Nesta situação, comece pelo mapa da ignorância e persevere.

Afinal, tão importante quanto ser bem-sucedido – e ter dinheiro – é ter a capacidade para manter seu sucesso, sua sanidade, seu caráter e conservar seus investimentos até o fim de sua jornada.

Conte comigo no que precisar para isso.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

Notas

(1)   Platão: https://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o

(2)   Leibniz: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gottfried_Wilhelm_Leibniz

(3)   Guimaraes Rosa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es_Rosa