Certa vez, fiquei surpreso ao assistir a um vídeo de Mike Maloney (1) onde ele chorava ao final pelas consequências da destruição da moeda na vida das pessoas, especificamente do dólar.

Ele lia em voz alta o trecho do livro “A Revolta de Atlas”, de Ayn Rand (2), onde um dos protagonistas dizia sobre o sofrimento causado por essa destruição invisível e incompreensível para a maioria.

Minha surpresa era porque Mike Maloney é um investidor e analista econômico, normalmente muito sereno em suas análises, algo que me identifico muito. Mas, o motivo de seu pranto era que ele afirmava, em tom de triunfo e simultaneamente de lamento, uma conquista que lhe custara muito esforço:

– “Eu fiz diferença na vida das pessoas.”

Ali revelava algo muito particular: seguia um plano de vida que, entre outros capítulos, incluía salvar o maior número possível de pessoas da tragédia silenciosa que é a desvalorização da moeda em suas vidas.

PRIMEIRO O PLANO DE VIDA, DEPOIS O DE CARREIRA

Em geral, o executivo não faz plano algum para sua carreira e muito menos para a vida.

Sua trajetória ocorre em função das oportunidades que lhe são oferecidas e somente após algum tempo começa a perceber que sua capacidade de a conduzir é a mesma de uma formiga sobre um tronco que desce um rio caudaloso.

Mas, neste instante, as responsabilidades profissionais e pessoais já estão em um nível que tolhe as alternativas. Apesar da frustração; a incerteza, a insegurança e o medo o fazem pender por manter as coisas como estão até encontrar uma saída, que quase nunca chega naturalmente.

Isto é uma tristeza: o executivo não refletir sobre seu plano de vida antes de planejar sua carreira.

O seu sucesso depende disso.

COMO CONSTRUIR UM PLANO DE VIDA

Uma grande empresa bem administrada possui planos que frequentemente são de 5 a 10 anos. Portanto, a forma como você faz um plano estratégico empresarial é insuficiente para planejar uma vida, já que se você estiver, por exemplo, com 40 anos e tem uma expectativa de viver até os 85, precisará planejar 45 anos.

Como fazer um plano tão longo?

A melhor maneira que conheço é se imaginar em uma história que é a seguinte:

Você nasceu em 1.900, em São Paulo. Naquela época não havia eletricidade, nem telefone ou celular. A única maneira de comunicação à distância era a carta escrita à mão.

Na casa vizinha, na mesma época, nasceu uma outra criança. Pela proximidade dos lares, vocês se conheceram, tornaram-se amigos e compartilharam brincadeiras e momentos em família.

A vida seguia normalmente e a amizade só crescia. Já planejavam qual carreira seguiriam e como seria a vida adulta.

Entretanto, quando você está com 15 anos, seu pai chega até você com a seguinte notícia:

– Filho, vamos nos mudar para a Austrália. Especificamente para Melbourne. Tenho uma oportunidade fantástica de emprego lá e nossa vida, a partir de agora, será do outro lado do mundo.

Você fica feliz de conhecer outro país, mas, ao mesmo tempo, preocupadíssimo em como manter sua amizade de longa data.

A solução é muito simples: você e seu amigo combinam que continuarão a amizade à distância, por meio de cartas.

Você passa para ele seu endereço em Melbourne e parte em viagem de navio.

Mas, enquanto a viagem ocorre, o pai de seu amigo chega até ele com a seguinte notícia:

– Filho, sua avó está muito doente. Teremos de nos mudar para Jaú, no interior de São Paulo, para cuidar dela.

Seu amigo, ciente de que você precisava ser informado do ocorrido, lhe escreve imediatamente uma carta informando o novo endereço no interior.

Sua viagem para Austrália demora quase um mês e, ao desembarcar, seu pai é abordado pelo diretor da empresa que lhe informa:

– Meu caro, enquanto você viajava, tivemos uma mudança de planos. Você ficará em nosso escritório de Sydney. Portanto, nem precisa desembarcar sua mudança aqui, vá direto para lá.

Ao chegar na cidade, você, preocupado em manter o contato com seu amigo, escreve para ele informando a mudança de endereço.

É evidente que ambas as cartas não chegam ao seu destinatário.

Você tenta por meses e anos o contato, mas, o passar do tempo e a falta de respostas deixam claro que você perdera sua grande amizade.

Mesmo assim, você toca sua vida. O sucesso lhe sorri, você casa, tem filhos, enfim, tem uma vida muito boa.

Até que, com 85 anos, você está em uma viagem à Londres, em um hotel. É de manhã e você está tomando café com a família. Na mesa ao lado, outra família também saboreia o café da manhã e você percebe que falam português.

De repente, seu olhar é capturado pelos trejeitos de um senhor que está à mesa e que lembra muito seu saudoso amigo, cujo contato perdera há tanto tempo.

Você se levanta e vai até ele.

Com muita educação começa a balbuciar as palavras:

– O Sr. me desculpe, mas seu jeito me lembra muito…

Ele não lhe deixa finalizar a frase: diz seu nome com um vozeirão firme para alguém de idade avançada, dá-lhe um abraço caloroso e vocês se alegram imensamente por se reencontrarem.

Mas, agora vocês têm whatsapp, celular e e-mail. Após uma conversa rápida, trocam os contatos e você se compromete a escrever-lhe assim que possível.

O PLANO DE VIDA

Um belo dia você senta em frente ao computador e escreve um detalhado e-mail a seu amigo descrevendo como fora sua vida.

Mas, algo incrível aconteceu: ela foi extraordinária!

Você conquistou tudo o que desejava, passou pelas experiências que sonhava e tornou-se a pessoa que desejava ser.

Esta carta, digo, e-mail que você escrever para seu amigo é o seu plano de vida.

Portanto, se necessário, pegue uma boa taça de vinho, imagine o que você escreveria e mãos à obra.

A ARTICULAÇÃO DO PLANO

É evidente que você fará esta carta de maneira sintética. Estou falando de um texto de cerca de 30 linhas. Mas, procure ser sincero consigo mesmo a respeito de quem desejaria ser e do que gostaria de conquistar.

Este é o “você de 85 anos”. É para esta pessoa que você deve satisfações para cada escolha que fizer em sua vida.

Por exemplo: vamos supor que, em sua carta, esteja escrito: “tive uma experiência internacional que me ajudou a compreender melhor a mim mesmo e a pessoas de outros países”.

E neste momento, acabou de receber uma proposta para trabalhar nos Estados Unidos e pensa em recusá-la. Então, seu “você de 85 anos” está olhando e perguntando: – E eu? Como é que terei uma experiência internacional para contar se você recusar esta oferta?

É evidente que, conforme a vida passa, você realizará exatamente certos pontos do que está na carta.

Outros, você terá de modificar.

Outros, terá de amputar.

Também acrescentará novas coisas conforme a vida passar.

Mas, o importante é o grand finalle. Você se tornar quem deseja ser. Afinal, é com esta pessoa que Deus conversa – digamos que Deus não conversa com suas partes baixas, somente com seu eu superior, o seu eu final.

Em sua vida, você deve se imaginar em uma peça de teatro que escreveu, passou o roteiro para todos os atores e… ninguém leu!

Você já deve ter visto, em alguma peça, quando um dos atores erra a fala, os demais têm de se virar para fazer aquilo ter sentido.

O mesmo ocorre em sua vida.

Por exemplo, neste exato momento você imaginava que seria promovido, que estaria com um salário maior, que viajaria no começo do ano em férias e, no entanto, acabou de receber a notícia que a promoção não veio, muito menos o bônus do final de ano. Isto, definitivamente não estava na peça.

Você deve imaginar o diretor do teatro – que é você mesmo – olhando para você e fazendo gestos frenéticos com a mão e falando baixinho:

– Continua! Continua! Não pare a peça! Se vira! Continua!

Assim é a vida: uma peça que ninguém leu o roteiro que você escreveu, mas todos ao seu redor participam.

O importante é fazê-la dar certo e jamais esquecer que você tem um grand finalle para entregar.

Em certos momentos, dá tudo mais certo do que você imagina. Às vezes, dá tão errado que você somente tem a misericórdia de Deus para recorrer.

Mas, ao final, a obra de arte tem de estar completa, vida e carreira: o melhor você de todos os tempos.

Meus votos são que seu plano possibilite a você viver como nenhum ser humano jamais viveu e como nenhum outro jamais viverá.

Conte comigo no que puder ajudá-lo para isso!

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

Notas:

(1)   Canal de Mike Maloney no Youtube: https://www.youtube.com/c/Goldsilver – Site: Https://www.goldsilver.com

(2)   Link para o livro “A Revolta de Atlas” https://amzn.to/3FRlLdD