Por que jamais deveríamos usar urnas eletrônicas?

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Por que jamais deveríamos usar urnas eletrônicas?

Quando estou dando coaching para executivos percebo o quanto eles estão afogados em tarefas e perdem a visão de quem são como pessoas dentro de um contexto muito maior do que o da empresa. Focados em questões econômicas e de carreira, não observam que elas derivam das decisões tomadas em outras esferas de suas vidas.

Preocupados em dar resultados empresariais esquecem daqueles que podem contribuir muito com suas vidas e carreiras: os resultados políticos.

Sem esses resultados, não há como fazer o que tanto desejam: progredir e ter a vida que sonharam para si, estar com suas famílias e amigos.

A maioria dos brasileiros é capaz de organizar um churrasco entre amigos. Para isso, precisará levar em conta o número de convidados, quantidade de carne, local, carvão, chopp e demais elementos que compõe a festa. Ao final, todos os gastos devem ser conferidos para que a divisão das despesas seja justa. Qualquer divergência, com os comprovantes em mãos, fica fácil de ser encontrada e corrigida.

Nosso sistema de votação não deveria ser mais complicado que isso para que a maioria dos brasileiro e seus amigos pudessem acompanhar e entender o que está sendo feito.

Na década de 1980 eu era responsável pelo desenvolvimento do programa básico de computadores da Microtec Sistemas. Eu lidava com uma linguagem, chamada assembly (1), na qual algo como abaixo era compreensível para mim:

JMP F000:E05BH

Você consegue entender isso?

Pois uma linguagem semelhante a essa é usada para fazer o sistema de votação eletrônica funcionar. Na empresa havia eu e, em média, mais duas pessoas capazes de compreender essa coisa, dar manutenção e auditá-la.

Nos computadores que usamos em nosso dia a dia, um único erro nessa informação ao chegar ao cérebro deles – chamado microprocessador – pode fazer o faturamento de uma empresa parar, uma mensagem não ser enviada corretamente, ou mesmo um número ser escrito incorretamente em uma planilha.

E pouquíssimas pessoas podem compreender como isso pode acontecer.

No caso da votação, temos de lidar com as urnas eletrônicas, a comunicação dos dados, os sistemas de armazenamento e os servidores de apuração. Todos eles usam essa linguagem – que pouquíssimas pessoas compreendem ou têm acesso.

Quando você vai decidir quem terá poderes sobre você, sua família e seus amigos, você tem a obrigação de exigir um sistema que você seja capaz de compreender e auditar.

A principal utilização da tecnologia é o controle. Por isso que ela é adorada pelo governo. Quando ele diz qual tecnologia deve ser utilizada para definir quem terá o poder, o que ele deseja é ter o controle sobre essa decisão, no caso, principalmente do processo de apuração.

É por isso que o governo se comporta como um mágico, que mostra a mão direita para o público, enquanto esconde o que faz com a mão esquerda. O governo sempre fala sobre a lisura das urnas eletrônicas, e que elas são testadas e que passaram nos testes de segurança (2). Entretanto, ele não diz nada a respeito dos sistemas de armazenamento, transmissão e, principalmente, apuração dos dados.

Por essa razão, nós devemos esquecer a velocidade em todo esse processo – afinal, qual o problema de fazermos a contagem manual dos votos e isso levar 5 dias ou mais? Estamos definindo quem irá mandar em nós, caramba! Isso exige que todas as pessoas envolvidas sejam capazes de compreender e acompanhar o que está sendo feito. A maioria dos brasileiros não é engenheiro, analista de sistemas, programador ou técnico em eletrônica. E, mesmo que fosse, não tem acesso aos programas da urna, dos sistemas de transmissão, armazenamento e, principalmente, apuração.

As inúmeras fraudes relatadas no pleito do dia 7 não foram e não serão investigadas – ver vídeo abaixo (3). O TSE simplesmente declara que não houve fraudes e que irá investigar quem as denunciou – quão democrático, não?

Como coach, meu trabalho é fazer perguntas. E, a pergunta mais relevante para mim é: quem faz o hardware desses equipamentos?

Quando você abre um computador, ou um celular, aquelas peças presas em uma placa – os chips – formam o coração do hardware, isto é, os principais sistemas físicos que fazem tudo funcionar.

A notícia abaixo (4), da Bloomberg, dá conta de que hardwares montados na China, por encomenda da empresa americana Supermicro, foram parar em companhias como apple, amazon etc. e estão sendo utilizados em setores do governo americano, incluindo forças armadas, CIA, FBI e NSA.  Eles foram criminosamente modificados por chips inseridos no processo de fabricação desses hardwares. Esses chips podem monitorar e transmitir informações a respeito do que eles estão fazendo. Se empresas desse porte e o governo americano podem ser vítimas disso, imagine nossas urnas e o processo de apuração.

“A manipulação de hardware é extremamente difícil de ser detectada. Por isso que agências de inteligência investem bilhões de dólares neste tipo de sabotagem.”

Um sistema de votação e apuração deve ser compreensível pelas pessoas comuns e auditável – como a organização de um churrasco. De tal modo que, o dia da eleição e os dias de apuração sejam um momento de trabalho, atenção e celebração da confiança que nós temos uns nos outros, em nosso país e nosso governo. Por essa razão, nós jamais deveríamos usar urnas eletrônicas em nosso processo eleitoral.

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(1) Silvio Celestino, antes de ser coach, trabalhou, das décadas de 1980 e 1990, como executivo e empresário no setor de tecnologia da informação. Autor do Livro: “Conhecendo a família Intel 80486” de processadores – Ed. Érica – 1992 – Co-autores: Cézar Nakajune e Bernardo Segal.
(2) https://olhardigital.com.br/fique_seguro/noticia/urna-eletronica-e-hackeada-em-teste-publico-de-seguranca-do-tse/72741
(3) https://www.youtube.com/watch?v=-VC6VrlV0Qg
(4) https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-10-09/new-evidence-of-hacked-supermicro-hardware-found-in-u-s-telecom