O QUE É PRECISO PARA SER INOVADOR?

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O QUE É PRECISO PARA SER INOVADOR?

Ao ser convidado pela Amcham para falar em um painel sobre equipes inovadoras no próximo dia 17/5, não tive como não me lembrar do meu tempo como desenvolvedor de computadores na década de 1980.

Eu era responsável pelo BIOS – Basic Input Output System – que é o programa que fala diretamente com a CPU – Central Processing Unit – e demais hardwares da máquina.

Na época estudávamos exaustivamente os manuais do computador IBM PC para entendê-lo, copiá-lo e fazer a nossa máquina.

O que essa experiência tem a ver com equipes inovadoras?

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PRIMEIRO O CONHECIMENTO

Se você quer ser inovador, primeiro tem de adquirir um conhecimento profundo sobre sua área de atuação.

Não é verdade que hoje se gera mais conhecimento do que no passado, o que se produz em abundância é registro de conhecimento.

A gigantesca quantidade de vídeos, textos, áudios e imagens produzidos por dia, não significa que tudo isso é conhecimento porque, para tal, ele precisa estar dentro de um ser humano.

Afinal, se você visita uma livraria para tomar café, o conteúdo dos livros que lá estão não será sorvido automaticamente.

Também não adianta você interiorizar tudo isso se não tiver habilidade para articulá-lo. E ser inovador tem mais a ver com articulação do conhecimento do que com insights vindos de sua cabeça.

Além disso, é importante saber que existem duas formas de você manter as pessoas na ignorância. A primeira delas é omitir a informação. A segunda é inundá-las com ela.

Você encontrará as duas formas na internet e terá de se orientar em meio a isso.

Portanto, além da capacidade de articulação há a necessidade de saber filtrar o que é verdade e imaginar possíveis lacunas do que não está dito em lugar nenhum.

Como um jovem profissional poderia fazer isso sem um mentor?

CONHECER A HISTÓRIA

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O principal papel de um bom mentor é completar a formação do jovem profissional por meio do compartilhamento de sua experiência e da história da sua área de atuação.

Você tem de conhecer a história se deseja entender o porquê da existência de sua área, quais os problemas que a fizeram surgir, quem são os grandes expoentes e que linhas de idéias você segue – claro que neste último item entrará fortemente a influência do mentor.

Aqui faço uma homenagem a meu primeiro mentor, Carlos Alberto Mendes, um engenheiro argentino que, em 1984, foi o primeiro a identificar meu dom como programador assembly e me orientou a estudar análise de sistemas.

Já para conhecer a história, não basta você ler os livros específicos de sua área. Você tem de procurá-la em todo lugar e encontrar as várias perspectivas de cada acontecimento.

Sempre me pergunto o que teria acontecido com os computadores se Don Estridge (1) não tivesse morrido tão cedo. Ele foi o engenheiro que gerenciou a criação do IBM PC e que criou uma indústria inteira com seu trabalho. Faleceu em 1985, em um desastre de avião provocado por um fenômeno meteorológico chamado microburst.

Ele era cotado para ser um dos presidentes da IBM.

Conheço tantos detalhes da história de Don Estridge porque ela é contada no livro “Horse Sense”, de Al Ries e Jack Trout, que fala sobre marketing. E a história de sua morte porque assisti a um documentário a respeito do fenômeno microburst que sita seu vôo – Delta 191.

Você tem de se interessar por personagens como Don Estridge para observar como era sua personalidade. Isto é, como ele pensava? Quem foram seus mentores? Que problemas estavam sob sua responsabilidade para ter sido capaz de criar uma nova fronteira tão vasta e duradoura como os PCs?

Qualquer um sabe sobre Steve Jobs, mas poucos sabem que Jobs queria contratar Don.

Nos dias atuais seria o mesmo que você ser desejado por Elon Musk.

Você é inovador o suficiente para isso?

Além disso, se não conhece a história de sua área, como saberá que o que você está propondo é inovador?

Você terá grandes insights se conhecer a história e acrescentar ou modificar idéias propostas por expoentes do passado. Aliás, é o que recomendo fazer.

FOCO NO CLIENTE

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Cada geração enfrenta desafios que lhe são peculiares, mas a maneira de articular o conhecimento é que faz de você um inovador.

Ao conhecer com profundidade uma área de atuação e a sua história você deixa de ser um homem de seu tempo e passa a ser um homem de todos os tempos.

Isto significa que é capaz de buscar no passado as pessoas de mais alto nível e dialogar com elas sobre os problemas atuais pois são responsáveis por cada tijolo e pilar relevante na construção do conhecimento necessário para a solução de problemas.

Dialogar significa, neste caso, imaginar o que essas pessoas diriam a respeito do problema, o que sugeririam a respeito de como estruturá-lo, dissecá-lo, criar as alternativas de solução e testá-las.

Um profissional excessivamente focado em seu momento histórico é muito limitado para conseguir criar algo realmente inovador. Em geral, articula conceitos sem conexão com a realidade e acredita que revolucionar é melhor do que reformar e aprimorar.

É como se fosse um Adão que pensa que o mundo começou com ele. Pior ainda, acha que tudo que existiu antes dele não presta, que as gerações passadas cometeram erros que devem ser consertados e para isso deve destruir tudo e começar do zero.

Esta cultura revolucionária cria indivíduos que são ótimos oradores e vendedores de uma profusão de idéias, mas quase todas acrescentam muito pouco às necessidades reais das pessoas e das empresas.

E o foco da inovação tem de ser o cliente, não o seu ego.

Gosto muito da forma como a tecnologia é testada em nossas plantações, Brasil afora. O agricultor reserva uma faixa do terreno para o teste e com isso tem a base de comparação com a área plantada sem a tecnologia.

Portanto, quem propõe uma inovação ao agricultor deve saber que ela será comparada com a realidade atual e não com um futuro hipotético.

É assim que se inova com consistência – com foco no cliente, aos poucos, mas de estação a estação.

Hoje me preocupa a quantidade de tempo e recursos gastos com problemas futuros inexistentes e que nunca chegam. Mas, que deixam jovens emocionados e focados na terra do nunca.

Portanto, foque o cliente real e os problemas reais para ser inovador.

PENSE NO LEGADO

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Quando deixei de programar, preocupava-me que todo aquele conhecimento adquirido ao longo dos anos fosse perdido. Por isso, junto com dois outros amigos da área, escrevemos um livro em 1992 para deixar registrado nosso conhecimento para quem viria depois.

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Agora, nas áreas de mentoria e coaching também me preocupo em deixar um legado. Por isso tenho um livro sobre carreira, outro sobre liderança e outro (em inglês e escrito com nomes como Marshall Goldsmith e Jonathan Passmore), que fala sobre diversidade em coaching.

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Espero que todos sejam muito úteis aos profissionais da área e aos clientes que atendo.

O que conta não é tanto a quantidade de livros, mas o quanto eles podem ajudar às pessoas.

Você deve pensar no mesmo se deseja ser inovador. Isto é, criar um patamar para as gerações seguintes se apoiarem.

Lembre-se que inovar significa fazer parte de uma história. É colocar mais um tijolo neste edifício cujo fim desconhecemos, mas que pode se tornar um mundo melhor para se viver sob a perspectiva de sua área de atuação.

Que o seu tijolo seja construído pelo bem, pela beleza e pela verdade. Pois são essas as matérias-primas de tudo que nos cerca e nos faz felizes.

Conte comigo para esta obra.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching