Em meio à crise de 2014, conheci o gerente de uma planta industrial que passava por muitas adversidades que envolviam desde um acidente na área de manutenção até negociações duras com sindicatos.

A empresa havia me contratado para ajudá-lo, mas ele postergava o início dos trabalhos porque estava atolado em problemas e não tinha tempo para o processo de coaching.

Ou seja, o motivo pelo qual a empresa me contratara aparentemente era o que impedia o executivo de conversar comigo.

Como sair dessa encruzilhada?

Bem, muitas vezes acontece de o executivo acreditar que o processo de coaching é uma espécie de sequência de aulas e que, portanto, ele tem de “passar no coaching”.

Não vou me ater a essa interpretação, mas ao fato de que é comum gerentes pensarem que têm de ter resposta para tudo e se tornam resistentes a pedir e aceitar ajuda, mesmo em meio a grandes desafios.

VOCÊ NÃO SABE TUDO

É claro que, ao gerir pessoas, todas se voltarão para você principalmente em meio à uma crise. Elas esperam por orientações, comandos e respostas.

Mas, um problema não vem com os caminhos para solucioná-lo. Assim como um boleto de cobrança, não vem com as informações sobre onde arrumar o dinheiro para pagá-lo.

Em geral, temos um bom conhecimento sobre os problemas que ocorrem em setores de nossa carreira de origem, mas, por vezes nossas promoções nos colocam na gestão de situações em áreas que não são nossa praia. Eu mesmo considero exasperante os problemas jurídicos pela total falta de prazo para a decisão de um magistrado.

O fato é que um gerente se sente muito pressionado a ter respostas para tudo.

Quando você admite que isso não é possível, coloca menos riscos em suas decisões e adota a humildade necessária para fazer perguntas àqueles que podem auxiliá-lo.

Lembro-me de um gerente de manutenção que acabara de ser promovido. Por uma série de fatores que não vêm ao caso, toda a indústria estava com uma tremenda pressão em seus custos. Sem se dar conta da inexperiência do novo gerente, o diretor o pressionou para reduzi-los ao máximo.

Na sua imaturidade, ele resolveu o problema interrompendo a manutenção de diversas máquinas e equipamentos e postergando a de certas instalações.

De repente, o diretor se deu conta de veículos parados por falta de reparos e, ao cobrar o gerente, ele respondeu que não estava realizando para cumprir suas ordens.

Foi então que o diretor lhe disse que esperava que ele renegociasse contratos e pagamentos a fornecedores, e não que a manutenção fosse interrompida a ponto de colocar em risco as pessoas.

Evidentemente que não passou pela cabeça do novo gerente perguntar ao diretor ou aos profissionais experientes como cumprir aquela ordem.

Toda solução de problema requer tanto de experiência quanto de criatividade.

QUAL TIPO DE CRIATIVIDADE VOCÊ PRECISA?

Em geral, as pessoas confundem criatividade com “criatividade artística”. Mas, o artista de grande talento para pintar um quadro, por vezes, não possui criatividade alguma para vendê-lo.

Do mesmo modo, a criatividade dentro da empresa requer que seja de idéias a respeito de uma área específica, com restrições de tempo e recursos.

Como a criatividade é uma competência da alma, só existem dois modos de alimentá-la: pela prece e pelos estudos.

É justamente nos estudos que um mentor ou coach pode auxiliá-lo, pelo compartilhamento de experiências e perguntas que o levem a aumentar seu conhecimento e imaginação.

O melhor que um mentor pode fazer por você não é prometer uma vida plena, próspera e feliz, mas auxiliá-lo a estruturar seus problemas para que você seja capaz de encontrar as verdadeiras respostas.

Afinal, se há algo que virá na sequência de um problema é… outro problema.

DOMÍNIO EMOCIONAL, SEMPRE ELE

Por último, por mais sinceros que sejam seus esforços solitários para solucionar uma questão, se você se desgastar excessivamente no processo, ficará exausto física, mental e, principalmente, emocionalmente.

Por esta razão, é fundamental desenvolver a capacidade de lutar pela serenidade em todos os momentos, por mais agudos que sejam. Sem ela, você não terá a lucidez necessária para decidir, a humildade para pedir auxílio e a temperança para combinar os diversos fatores que contribuem para solucionar uma questão.

Lembre-se do toureiro.

Quando está na arena ele não sabe o tamanho do animal que sairá do portão para atacá-lo. Ao vê-lo, tem a exata noção que o touro é muito maior que ele e que não tem as opções de fugir ou dar um tiro nele.

O que o toureiro faz?

Em primeiro lugar, nunca dá as costas para o problema, digo, para o touro. Ele o encara vindo em sua direção até o momento em que, quando o animal chega bem perto, dá um passo para o lado de largura suficiente para fazer o touro passar reto e, então, imediatamente se vira para o animal de novo.

O touro faz uma nova investida. E mais outra, e outra. A manobra descrita acima se repete até que, a partir de determinado momento, toureiro e touro estão em uma verdadeira dança.

Uma dança entre o homem e suas adversidades.

Portanto, tão importante quanto solucionar um problema é, ao fazê-lo, estar preservado, aprimorado, se possível, e pronto para o próximo desafio.

Será esta prontidão que o fará dominar verdadeiramente sua carreira e desenvolvê-la em direção aos cargos e ao sucesso que tanto deseja.

Infelizmente, não é possível, nem desejável, uma vida sem problemas, mas uma grande capacidade de resolvê-los, por maiores que sejam.

Conte comigo no que puder contribuir com isso.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching