FELICIDADE E SACRIFÍCIO

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FELICIDADE E SACRIFÍCIO

Eu estava em um almoço de confraternização em um pequeno grupo de coaches executivos, em um raro momento em que eu era o mais jovem na mesa – quando eles lerem isso, terão de concordar – quando em dado instante começamos a conversar sobre o quanto os jovens em particular, mas as pessoas em geral, estão muito focadas na felicidade e com pouca disposição para fazer algum sacrifício.

Falávamos sobre a demanda das empresas de que os profissionais voltem ao escritório e o quanto muitos não o desejam de maneira alguma e outros somente de forma híbrida.

É evidente que alguns não têm como voltar porque foram contratados em localidades distintas da companhia, mas em certos departamentos a resistência é quase total, inclusive dos gestores.

Não conversávamos sobre se as pessoas deveriam ou não voltar, mas no quanto a falta de sacrifício na vida delas as tem feito fracas para lidar com os problemas do dia a dia.

EXAGERO

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Em meio à semana santa, quando recordamos o maior sacrifício de todos os tempos – o sacrifício do próprio Deus para salvar nossas almas – é um exagero considerarmos as situações adversas que temos de enfrentar como um verdadeiro sacrifício.

Mesmo quando comparamos com o que estão vivendo ucranianos, ou os cubanos e venezuelanos, é inapropriado considerar um sacrifício o retorno ao escritório físico.

VOCÊ NÃO PRECISA CONCORDAR COM TUDO

Se as crianças e os adolescentes fizessem somente o que concordam, eles morreriam. Afinal, as crianças não querem parar de brincar, assim como os adolescentes também não querem parar de beber e de se divertir para, por exemplo, dormir e se alimentarem adequadamente.

Tornar-se um adulto tem muito a ver com sua capacidade de tolerar fazer coisas com as quais não concorda. Não creio que a maioria concorde em acordar cedo para ir trabalhar, ir à academia, fazer pilates (no meu caso essencial para cuidar das costas), ou mesmo tomar um remédio regular para problemas crônicos.

Mas, um adulto se submeterá a muitas dessas rotinas para poder ter a vida que deseja.

As empresas contratam os trabalhos dos melhores mentores e coaches para que seus gerentes e diretores aprendam a liderar, mas nenhuma contrata um trabalho para alguém aprender a ser liderado – você terá de aprender sozinho.

Por isso, o primeiro nível de liderança é o indivíduo ser capaz de liderar a si mesmo, isto é, de liderar sua própria vida.

Neste sentido, podemos considerar que todos nós somos líderes de nós mesmos – e por incrível que pareça, como liderados, não concordamos conosco mesmo em muitos momentos.

Uma das reclamações mais frequentes que ouço de diretores e gerentes é que eles têm de perder um tempo enorme para convencer a certas pessoas do time a fazerem o que eles pedem.

De fato, por alguma razão nossa cultura atual acha lindo que sejamos capazes de criticar tudo.

Entretanto, a visão crítica está para o conhecimento assim como o suco gástrico está para a digestão. Isto é, se você comer muito, um pouco de suco gástrico fará seu corpo digerir de maneira saudável o alimento.

Mas, se você comer pouco, o excesso de suco gástrico lhe dará primeiro uma dor no estômago, depois uma gastrite e finalmente uma úlcera.

Muitas pessoas sofrem de uma espécie de úlcera crítica por absoluta falta de conhecimento.

VOCÊ AMADURECE NA ADVERSIDADE

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Se todos nós morremos, não há que se falar em felicidade duradoura neste mundo – ela deve existir em outro lugar, o que nos remete novamente ao sacrifício de Deus por nossas almas.

Se há dificuldades, problemas, acidentes e tragédias nesta vida, quer seja pessoal ou profissional, o máximo que podemos fazer com eles é dar-lhes um sentido.

Isto é, reabsorvê-los como uma espécie de exercício que desenvolve nossa alma. Ou seja, as alimenta com as virtudes de fortaleza, temperança, justiça e prudência, pois estas são as virtudes mais demandadas conforme a vida avança. E olhe que você terá muita sorte se não precisar delas ainda na infância – como é o caso, por exemplo, de crianças com câncer.

Sem essas virtudes o que vemos são profissionais que ficam ansiosos, frustrados e angustiados com muita facilidade e frequência.

Portanto, procure ver as adversidades com menos emoção, mas sem ilusão também.

Ou seja, voltar ao escritório pode não ser uma tragédia, mas é muito desfavorável para algumas pessoas – e é mesmo.

Mas, saber lidar com situações desfavoráveis cada vez maiores é o que faz um profissional amadurecer, ser promovido, adquirir mais responsabilidades e desenvolver sua carreira.

Isso vale para a vida pessoal. Se você quiser se casar, ter filhos e ser responsável por uma família, prepare-se para uma avalanche de adversidades.

Assim como na vida profissional, são elas as pedras que você utilizará para construir uma escada sólida e verdadeira de felicidade.

Boa Páscoa a todos.

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching