PASSAR A DECISÃO PARA O CHEFE NÃO É A SOLUÇÃO

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PASSAR A DECISÃO PARA O CHEFE NÃO É A SOLUÇÃO

Nesta semana, chamou minha atenção a profusão de temas que executivos discutiram em grupos de WhatsApp e nas redes.

Os assuntos eram aleatórios e iam da dificuldade dos diretores serem respeitados, passava por empregados de empresas privadas que são contra o capitalismo e o excesso de mensagens.

Entretanto, ao conversar com o presidente de uma empresa, o tema que me chamou a atenção foi a constatação de que seus diretores passavam para ele a responsabilidade da decisão sobre problemas que deveriam resolver.

É deste comportamento que surgiu a antiga expressão: delegação para cima.

Ou seja, por falta de conhecimento, compreensão ou coragem, o indivíduo que está abaixo de alguém transforma o chefe em subordinado e passa para ele a decisão sobre tarefas que estão sob sua responsabilidade.

A FALTA DE CONHECIMENTO

A primeira perspectiva que tem aparecido com frequência ao analisar esta questão é que o executivo de fato não sabe o suficiente para a tomada de decisão.

O desejo de subir rapidamente fez com que alguns gerentes simplesmente sejam jovens demais e, portanto, não tiveram tempo de vida suficiente para saber o necessário sobre os temas que estão na sua esfera de atuação.

Por esta razão, somente percebem, no meio da reunião de decisão, as lacunas de seu conhecimento. Ou seja, no momento em que deveriam apresentar a solução de um problema, são incapazes de responder a uma única questão apresentada pelo presidente. Em geral, entretanto, é a questão que derruba toda a argumentação dos executivos.

Não sei se por causa do uso de celulares, das redes sociais e da frequência com que são filmados, os jovens gerentes possuem uma eloquência formidável, mas um conteúdo sofrível em suas falas.

Sei que a cultura brasileira é contrária à leitura. Mas, um executivo é essencialmente um líder intelectual – ou seja, que usa o poder das palavras para fazer as pessoas agirem. Portanto, adquirir conhecimento, principalmente por meio da leitura de bons livros, inclusive de sua área de atuação é a única forma de acelerar sua experiência.

A FALTA DE COMPREENSÃO DO NEGÓCIO

Outro aspecto que faz com que as decisões sejam passadas para cima envolve o fato do gestor desconhecer o negócio da empresa.

Ele não entende o que a empresa vende, não costura as soluções com os demais departamentos e olha somente para seu próprio umbigo.

Fico estarrecido ao ver a arrogância de certos executivos em relação às vendas, como se vender fosse algo simples e uma aspecto menor da empresa e não o essencial. Quando, na realidade, todos deveriam ter uma profunda preocupação em ajudar os vendedores a servir aos clientes.

Além disso, a conversa de negócios é feita na linguagem contábil. Portanto, um executivo deve saber apresentar suas atividades em termos de aumento de receita, redução de custos ou melhoria mensurável de algum produto, processo ou serviço.

E deve conhecer essa perspectiva sob o ponto de vista do ecossistema no qual a empresa está inserida. Isto é, clientes, fornecedores e demais stakeholders.

A FALTA DE CORAGEM

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No filme Lord Jim, Peter O´Toole interpreta um jovem britânico que se alista na marinha mercante inglesa da Rainha Vitória. De boa índole e cheio de fantasias, Jim se vê em uma situação terrível para decidir: em meio a uma tempestade descobre um problema estrutural no navio no qual é o primeiro-oficial.  Os demais membros da tripulação o incentivam a abandonar o navio junto com eles, mas isto selaria a sorte dos passageiros muçulmanos que estão em viagem para Meca.

As consequências de sua decisão o acompanham por toda a vida.

A maioria dos executivos não estão em uma situação tão desesperadora quanto Jim, mas agem como se estivessem: sem coragem.

Seus critérios de decisão incluem: como preservar o emprego e o que os outros vão dizer a meu respeito.

Como mencionei em meu texto da semana passada, querer preservar o emprego é uma motivação válida para o trabalho. O problema é a forma que você usará para isso.

A pandemia foi desastrosa para o moral das pessoas. Os sofrimentos, as situações tristes que alguns tiveram de enfrentar e o estresse sobre todos tiraram o viço de muitos. Mas, também mudou a rotina dos profissionais que já não vêem no ambiente empresarial uma fonte de sua energia. Querem estar em suas casas.

E, para estar em casa, precisam de dinheiro.

A empresa, então, tornou-se uma espécie de caixa eletrônico em um local inóspito: você tem de ir até ele porque precisa, mas não está nem um pouco a fim.

Fica difícil interessar-se pelos clientes, pelo negócio da empresa e pelas decisões com este espírito.

Entretanto, há um futuro pela frente. Você terá de decidir se deseja que ele seja inexpressivo, irrelevante e empobrecedor; ou marcante, relevante e inspirador.

E não fazer nada já é uma decisão.

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Nós, como executivos mais experientes, temos de assumir nosso papel de incentivar os jovens gerentes ao risco, sabendo que a vida é para valer: já tomamos nossas decisões péssimas para a empresa, carreira e vida. As consequências delas são terríveis, financeira, física e psicologicamente.

Mas, são os indivíduos que mais lutam por segurança que têm os piores destinos: se enfraquecem espiritualmente e são frágeis ao enfrentar as situações mais corriqueiras.

Se todos nós nascemos, vivemos e morremos, a única escolha que temos é a forma como responderemos aos nossos deveres e obrigações.

Mas, a vida é para valer e vale a pena ser vivida.

Por isso, se decidir é um peso muito grande, escolha adquirir mais conhecimento, entender mais do negócio da empresa e trabalhe intensamente suas virtudes ao longo do caminho.

Você precisará, portanto, desenvolver com esmero a justiça para decidir com equilíbrio, a prudência para não deixar o orgulho ou a vaidade o influenciarem, a temperança para escolher bem os propósitos e critérios de cada decisão e, finalmente, a fortaleza para administrar o medo e aguentar as consequências.

Meu caro, não tem como fugir disso, e passar as decisões que deveriam ser suas para o chefe não resolverá o problema.

Mesmo que você não tivesse escolhido a vida executiva e empresarial, a falta de virtudes sempre lhe cobrará a conta.

Portanto, ânimo e coragem.

Vamos em frente!

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Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

silvio.celestino@alliancecoaching.com.br