Por que estamos tão pessimistas?

Nesta semana santa veio para mim a reflexão de que o brasileiro em particular e os demais povos em geral andam excessivamente pessimistas.

Fiz uma rápida busca pela internet e, de fato, pesquisas mostram um desalento com a situação do Brasil e há um sentimento semelhante em outros países.

Para os executivos esse sentimento geral não ajuda.

Isto me faz lembrar da série de desenho animado Lippy e Hardy.

Lippy era um leão entusiasmado e otimista, enquanto Hardy era uma hiena pessimista que somente se lamentava dizendo “Oh, céus… Oh, vida… Oh, azar…”

Aparentemente, no momento estamos com excesso de Hardies.

Nossa cultura possui um comportamento paradoxal pois o brasileiro é extremamente bem-humorado, mesmo nas adversidades. É só observar as letras dos bons sambas e a forma como transformam tristeza em alegria.

Entretanto, é uma dificuldade encontrar alguém que seja entusiasmado com um novo empreendimento.

É mais comum você ouvir: “isso não vai dar certo.”

Como todo empreendimento é feito de altos e baixos, é evidente que, em algum momento, Hardy terá razão.

Mas, o fato é que somente Lippy tem idéias e move as ações para a frente.

PESSIMISMO NO TIME É AINDA PIOR

Se já é difícil com uma multidão de pessoas na arquibancada, vaiando e torcendo contra, para um executivo o problema se acentua quando sua própria equipe não acredita na vitória.

De fato, se você quiser acabar com uma nova idéia, é só fazer um escrutínio detalhado e provavelmente encontrará inúmeras falhas.

Afinal, ninguém é capaz de parir uma idéia completa, perfeita e acabada. Ela sempre terá de passar por lapidações para mostrar seu real valor.

Se, no meio do processo as pessoas duvidarem do resultado final, é claro que interromperão as ações ou as farão sem a energia e o ritmo necessários.

Para piorar, o brasileiro tem uma certa birra em adquirir conhecimento e, portanto, com frequência se lança em empreendimentos sem a devida pesquisa, o devido preparo e um plano bem traçado. Portanto, é evidente que a maioria das novas empresas acaba por falhar, o que confirma os Hardies de plantão.

Foto: Ricardo Nicodemos, Presidente da ABMRA, e sócio fundador da RV Mondel, no podcast do canal O EXECUTIVO

EMPREENDER É ARRISCADO

Além disso, mesmo com planos bem traçados, bom preparo e estudo, é da natureza dos empreendimentos não funcionarem. Isso ocorre porque a complexidade da totalidade das ações humanas articuladas nos mercados é impossível de ser observada e compreendida por alguém. Sempre há percalços e imprevistos.

Se você conseguir com habilidade e experiência observar os pontos cruciais e agir em acordo, tomará as decisões e agirá de forma acertada. Mas, isso não é frequente.

Estou há 30 anos no mercado e evidentemente já passei por altos e baixos, mas não deixa de ser assombrosa a quantidade de negócios de todos os tamanhos que vi nascer e sucumbir ao longo desse tempo.

Entretanto, se eu pudesse destacar um ponto essencial em todos os que chegaram lá, foi a capacidade de fazer mais um lance, de aguentar mais um dia e de achar uma última ação, uma última tentativa de fazer as coisas funcionarem.

Claro que me refiro àqueles que jogam o jogo com veracidade e não os que, de forma escondida ou discreta, pertencem a certos grupos, possuem conexões privilegiadas ou são desonestos.

São esses valorosos e verdadeiros empreendedores que se comportam como se encarnassem aquela máxima: terei sucesso ou morrerei tentando. Por vezes, isso significa décadas de muito trabalho e esforço.

Embora a história seja contada pelos perdedores – afinal, somente quem perde tem tempo de escrevê-la, enquanto os vencedores estão ocupados demais em fazê-la – mesmo os que chegam lá sabem que a cada dia há um leão à espreita para ser vencido.

Portanto, sucesso passado nunca é garantia de sucesso futuro.

HUMILDADE

Este fato aponta para a humildade que deve pairar sempre sobre a cabeça de todos que estão no comando. Eles não descuidam de sua formação, busca por conhecimento e competências.

Por último, é importante salientar que o otimismo é uma competência a ser desenvolvida por todos que desejam liderar.

Este desenvolvimento começa com sua capacidade de ver a realidade com todos seus elementos e saber discernir o que é uma ação sua, do outro e em qual contexto está.

Suas ações podem ser aprimoradas com o autodesenvolvimento, sozinho ou com o auxílio de um coach ou mentor.

A ação do outro pode ser melhorada com um alerta seu, um conselho ou um feedback.

Já o contexto deve ser observado com atenção para se identificar os pontos que podem ser mudados e aqueles que são imutáveis. A partir do reconhecimento dessa topologia da realidade que devemos refletir antes de agirmos para escolher a ação com maior chance de sucesso.

Assumir o que lhe cabe, reconhecer o que cabe ao outro e o que é parte do contexto, é a maneira correta de avaliar uma situação e plantar o otimismo em acordo com os eventos.

Afinal, tão importante quanto agir é fazê-lo com sabedoria.

Ela é a semente do otimismo que sopra em nossos corações a mensagem de que “tudo passa” e, portanto, não há situação desfavorável que perdure para sempre.

Logo, vencer as adversidades começa com vencer a si mesmo, seus medos, pensamentos desfavoráveis e suas paixões, e ordenar as ações necessárias para chegar lá.

OTIMISMO NA DOSE CERTA

Mas, tudo isso precisa ser feito com o tempero do otimismo na dose certa. Afinal, a falta dele gera inação ou fraqueza, e o excesso gera imprudência.

O fato é que somente os otimistas perseveram o suficiente para verem a próxima aurora.

E ninguém melhor para nos incentivar a isso que o anjo deste dia, Sábado de Aleluia, que aponta para o céu e diz: aguarde este dia passar pois amanhã será uma nova aurora, a mais extraordinária que jamais existiu.

Quem somos nós para duvidarmos de suas palavras?

Cuide de seu otimismo e vamos em frente!

Boa Páscoa a todos!

 

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

Autor do livro: O LÍDER TRANSFORMADOR, como transformar pessoas em líderes

silvio.celestino@alliancecoaching.com.br