PARA LUCRAR, INVISTA NA VERDADE

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PARA LUCRAR, INVISTA NA VERDADE

Estou de férias e espero que o texto possa ser útil a você, mesmo com alguma imprecisão aqui e ali – o entardecer ao norte de Alagoas é inspirador para muitas coisas, mas não para um texto aprofundado.

Durante a semana, minha esposa e eu observamos algumas estruturas dentro do mar perto da praia que pareciam ruínas de casas. Eram como duas paredes a noventa graus que tivessem sido tudo que teria sobrado de uma pequena habitação em função do avanço do mar ao longo dos anos.

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Entretanto, hoje, na maré baixa, vimos outras estruturas semelhantes em uma linha paralela à praia. O sol estava quente e minha esposa me convidou para que eu fosse sozinho até as estruturas para ver do que se tratavam exatamente.

Fui até lá, e qual não foi minha mais absoluta surpresa ao ver que não se tratava de restos de paredes, mas de troncos de coqueiros que por alguma razão ficaram dispostos exatamente a noventa graus no fundo da areia. O tempo fez conchas incrustarem neles e lhes davam um aspecto de ruínas em vez de troncos.

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Isto me fez lembrar do que escrevi no texto anterior sobre a importância da leitura para os jovens, em particular, mas para todos nós, em geral.

A leitura nos permite o exame de idéias contrárias e é isto que possibilita o conhecimento, especialmente a verdade.

CONSENSO NÃO É VERDADE

É um período histórico preocupante o que vivemos onde a propaganda de um suposto consenso é considerada uma prova da verdade.

Entretanto, Newton descobriu as leis físicas por consenso ou sozinho? A teoria da relatividade surgiu por meio de debates consensuais entre muitas pessoas ou somente com Einstein? E sua refutação, desconhecida por muitos, é obra de consenso ou somente de Wolfgang Smith?

Se algo é consenso podemos afirmar que não se trata de ciência, pois ela é, por definição, o confronto de idéias.

Mas, o que isso tem a ver com troncos de coqueiros submersos na maré cheia?

Bem, quer você queira descobrir algo tolo como isso ou investigar afirmações mais sérias, terá de se acostumar a examinar pessoalmente os temas.

Nos dias atuais parece que as pessoas se sentem envergonhadas de dizer: um minuto, isto não faz o menor sentido! Deve haver outra explicação possível!

Como se todos tivessem se tornado adolescentes e que precisam da aceitação do grupo para sentirem-se seguros.

A consequência disso é que idéias erradas são propagadas por anos a fio sem que ninguém as conteste.

Quando em 2002 saí da área de TI e comecei a trabalhar com treinamento, fui apresentado a uma dessas idéias incontestáveis, a famosa pirâmide do conhecimento.

UMA FALSA PIRÂMIDE

A “pirâmide” é um suposto estudo, com origem no trabalho de Edgar Dale Dryden chamado “Métodos audiovisuais em aprendizagem”, de 1954.

O NTL – National Training Laboratories Institute (Instituto dos laboratórios nacionais de treinamento – dos Estados Unidos), afirma que desenvolveu a pirâmide no início dos anos 1960, quando ainda era parte da “Associação Nacional de Educação – divisão de educação de adultos”.

Entretanto, apesar de acreditar que o estudo seja preciso, o NTL diz que não possui os originais dele.

A figura abaixo mostra o porquê do nome “pirâmide” (ou cone) de aprendizagem/retenção/experiência.

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Fonte: wikipedia

Desde a primeira vez que vi este estudo sabia que ele estava errado, embora não fosse capaz de articular todos os motivos.

Entretanto, ele é repetido em tantos livros e por tantos consultores renomados ao redor do mundo que “pega mal” dizer que ele não tem base.

Lembro-me de tê-lo visto em um livro de Robert Kiyosaki, autor de best-sellers sobre finanças. O que, sem dúvida é bastante intimidador para quem deseja refutá-lo.

Mas, a melhor síntese que vejo contra a pirâmide é o trabalho de Kare Letrud do Lillehammer University College, e que afirma o que eu já imaginava: não há base empírica ou metodologia científica para suportá-lo.

A análise completa com inúmeras referências está abaixo:

Isso quer dizer que todos aprendem do mesmo jeito e que não há um método melhor que outro?

Creio que a resposta a esta pergunta é um sonoro “não sei”.

Mas, entendo que o principal fator para o aprendizado não é o método, mas o interesse de quem quer aprender.

Eu já tive de aprender inglês para poder aprender eletrônica, e suportei professores horríveis, mas que tinham o conhecimento que eu desejava aprender e, portanto, não me importava com seu estilo ou forma grotesca de ser.

Quanto aos métodos, entendo que dependendo do que você deseja aprender poderá ser melhor por livros, ou pela experiência, ou um mix de ambos.

UM PILOTO IMPROVÁVEL

Nunca tive uma compleição física de atleta. Minha participação em esportes sempre foi sofrível – principalmente para meus amigos.

Mas, certa vez fiz um teste psicológico para minha terapeuta que estava desenvolvendo um produto onde uma pessoa poderia ver se tinha alguma característica de atleta de alta performance.

Não preciso dizer que devo ter sido a pior cobaia de todas. Fisicamente não tinha nada de relevante, mas minha concentração era bem acima da média e, segundo os avaliadores, teria alguma chance como piloto de carros.

Isto estava totalmente fora de minhas expectativas. Entretanto, no início dos anos 2000 houve uma febre de kart amador em São Paulo. Meus amigos e eu decidimos correr e eu era, como esperado, um piloto sofrível. Mas, como lembrei-me do teste que fizera, resolvi dedicar um tempo para me desenvolver.

Meu treinador na academia conhecia alguns professores da USP que haviam participado do desenvolvimento de treinamento para piloto usado por Ayrton Senna.

Além disso, fui ao meu médico pneumologista, que primeiro me deu uma dura por correr de kart em função de meus problemas pulmonares, mas generosamente me deu um remédio que poderia me colocar em pé de igualdade com os demais competidores.

Por último, não menos importante, como sempre fui um aficionado por Fórmula 1, tinha o livro do Émerson Fittipaldi – “A arte de pilotar” – onde ele realmente compartilhava conhecimentos fundamentais para quem deseja ser piloto. Lembro de 3 deles:

1 – Imite os pilotos mais experientes

2 – Em geral o principal erro dos pilotos novos é que fazem as curvas de baixa muito rápido e as curvas de alta muito lentamente

3 – É nas curvas de alta que você mais tira tempo na volta.

Passados três meses de treinos na academia e era difícil alguém ganhar de mim na pista. Como sempre fui visto como um intelectual, quando meus amigos me perguntavam o que eu tinha feito eu respondia:

– Li!

E escondia a parte dos treinos.

Grande parte do aprendizado profissional tem essa característica, é uma mistura de conhecimentos adquiridos por muita leitura, treino e aprendizado respeitoso da experiência dos mais velhos.

Quando mencionei no artigo anterior a importância de leitura é porque é ela que lhe dará a inteligência e a imaginação necessárias para você avaliar com conhecimento aquilo que chega até você.

ARES DE VERDADE

Fico muito preocupado quando vejo tudo que aparece com ares de verdade porque vem de “um estudo” ou “um estudo científico” ou ainda “15.000 cientistas chegaram a um consenso que…”

A reflexão individual sobre uma afirmação é fundamental porque somente o exame cuidadoso poderá concluir que algo é verdadeiro.

Aceitar afirmações porque foram feitas por entidades, instituições, governos, cientistas ou acadêmicos é reduzir seu direito de questionar e avaliar conscientemente se o que lhe está sendo dito é verdadeiro ou não.

Quer seja para fazer um investimento ou para saber algo importante para uma decisão particular, será a verdade que prevalecerá ao final e, portanto, você tem de buscá-la e, em certos casos, lutar por ela e defendê-la.

Portanto, antes de aceitar uma afirmação oriunda de um “estudo” qualquer você deve fazer perguntas como:

– O que devo considerar sobre este tema?

– Qual o nome das pessoas que fizeram este estudo?

– Qual o resultado que interessava a estas pessoas ou ao patrocinador do estudo?

– A quais grupos essas pessoas pertencem?

– A quem interessa esses resultados?

– A quem interessa propagandear esses resultados?

– Qual metodologia foi aplicada?

– Como o estudo foi auditado?

– O resultado faz sentido com o que eu observo na realidade?

Enfim, a noite avança aqui em Alagoas e é hora de jantar.

Mas, espero que esses pensamentos possam fazê-lo refletir se você não anda acreditando em coisas demais com ares de estudo científico, ou com medo de refutar idéias porque as pessoas à sua volta podem criticá-lo por isso.

Digo isso porque para liderar sua vida, um departamento ou um negócio existe uma competência que é primordial: a coragem.

Ela é fundamental para todos aqueles que buscam em sua vida se pautarem pela verdade.

Conte comigo no que puder ajudá-lo nesta busca – assim que eu voltar de Alagoas, é claro.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching