O PAPEL DO RH NAS CRISES FUTURAS

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O PAPEL DO RH NAS CRISES FUTURAS

A rápida substituição da crise da pandemia pela guerra da Rússia com a Ucrânia me fez lembrar daqueles assuntos que parece que só você se interessa.

Quando eu era pequeno, costumava ficar sozinho vendo formigas. Me interessava por descobrir de onde elas vinham, observar as diferenças entre elas e jogar coisas para pegarem e levarem para o formigueiro. Passava horas fazendo isso e, é claro, sem companhia porque era a coisa mais desinteressante do mundo para outras crianças.

Lembro-me que havia um programa de TV, não estou certo do nome, se “8 ou 80”, ou “O céu é o limite”, onde o apresentador, acho que J. Silvestre ou Flávio Cavalcanti, fazia perguntas para um convidado a respeito de um tema que ele dominava. Há época ficou famoso um senhor de cabelos grisalhos e muito tranquilo que dominava tudo sobre formigas – claro que ele tinha um fã.

Mas, voltando às mudanças das crises, há nelas um tema muito desinteressante, mas que afetará a todos: a inflação.

Do mesmo modo que os departamentos de RH tiveram de focar os cuidados com os colaboradores diante da pandemia inédita, também a inflação que se avizinha requer que o RH se prepare para orientá-los.

A EXPERIÊNCIA CONTA

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Para quem se lembra de como foi o período hiperinflacionário ao final dos anos 1980 até 1994, sabe que esse fenômeno muda a rotina de compra das pessoas.

Era comum ver famílias, mesmo de classe média, ter grandes freezers que serviam para armazenar perecíveis que eram adquiridos para o mês todo e, se possível, para além dele.

Afinal, todos sabiam que a moeda não seria capaz de comprar a mesma quantidade de comida na semana seguinte e, em alguns momentos críticos, nas horas seguintes.

Grande parte da geração atual de executivos e colaboradores não viveram esta época e, portanto, não possui o mindset requerido para lidar com essa questão.

Por este motivo, tenho alertado, com maior ênfase nos últimos 2 anos, sobre a necessidade dos executivos responsáveis pelos planos de negócios refletirem sobre a seguinte pergunta:

O que você faria estrategicamente com sua empresa se a inflação dos próximos anos fosse de 400%?

Isto porque este é o percentual de moeda a mais que o banco central americano – Federal Reserve – emitiu neste período – e é provável que este número não revele toda a verdade.

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Assim como as formigas, ninguém gosta de falar sobre isso, até aparecer em sua casa.

Embora as pessoas desconheçam o mecanismo que faz com que a emissão de moedas vá parar no preço das coisas, elas percebem muito bem quando a gasolina aumenta em 18%, como aconteceu nesta semana.

Mas, não vi muitos comentários sobre o aumento do níquel que, em determinados instantes, na bolsa de mercadoria de Londres chegou à marca de 250%.

Mesmo que a empresa consiga formular uma resposta apropriada à esta questão, se os funcionários não souberem o que fazer diante deste desastre para protegerem suas finanças, suas respectivas famílias sofrerão um bocado.

E é aí que o RH entra.

O PAPEL DO RH

Considero fundamental que o RH – saturado de temas que podem esperar – alerte à empresa e aos funcionários sobre este terrível dragão, (quem já passou dos 50, como eu, se lembra dessa expressão), que pode literalmente devorar os suados ganhos de ambos.

De um lado, teremos clientes com menor poder de compra para adquirir nossos produtos e serviços; do outro, aumento dos custos de nossos fornecedores e despesas de energia, água, comunicação etc.

Como nossos funcionários, que vêm de um período de intenso de estresse provocado pela pandemia, terão energia para encarar este novo desafio?

ENTENDER PARA AGIR

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Em primeiro lugar, por menor que seja seu interesse por formigas, digo, inflação, você precisa entendê-la.

A maioria ouve uma mensagem preocupada em responder ou criar uma ação imediatamente após tê-la recebido, mas você deve ouvir para entender.

Recentemente, uma executiva de vendas me perguntou, em um workshop sobre o tema, o que ela podia fazer se o cliente não aceitava preços maiores e os departamentos de compra e financeiro estavam irredutíveis quanto à possibilidade de dar mais descontos?

Respondi que ela teria de ser educadora de seu próprio cliente. Ou seja, mostrar que, na atual conjuntura econômica, se ele não comprar agora com o novo preço, corre sério risco de amanhã pagar ainda mais caro.

Além disso, a empresa teria de pensar na venda de produtos com menor peso ou quantidade, para que caibam no bolso do cliente.

Na outra ponta, reduzir custos e procurar comprar com o prazo mais elástico possível em parcelas fixas.

Não tenha ilusões: estas são orientações muito fáceis de escrever em um texto e dificílimas de implementar.

A tradução disso é mais estresse nos ombros de todos.

Minha preocupação é a seguinte: até quando e quanto os colaboradores aguentarão de estresse, sendo que já se avizinham crises de ataques cibernéticos, cadeia de suprimentos, falta de alimentos, de energia, expansão da guerra e sabe-se lá mais o quê?

MANTER A SANIDADE

O ponto mais importante, nos próximos anos. é lutar para manter a sanidade em um mundo que se desorganiza e ruma perigosamente para crises cada vez mais severas.

Essas crises nos desnorteiam.

Portanto, quer seja um vírus, uma guerra ou uma inflação desenfreada, procurar o Norte é uma questão de sanidade.

Os próprios profissionais de RH devem se preocupar com isso para si mesmos pois serão demandados pelos demais para oferecer ajuda.

Encontrar alguém mais experiente que possa não apenas orientá-lo, mas trocar visões maduras em uma conversa de alto nível é fundamental para achar soluções.

Nenhuma liderança, quer seja da vida, da carreira ou empresarial, se faz sozinha. Os modelos, as melhores práticas, conceitos e o conhecimento profundo fazem diferença na hora da crise.

O AUXÍLIO PELO CONHECIMENTO DA VERDADE

Nada nos dá um norte mais seguro do que conhecer a verdade.

O mundo é um enorme quebra-cabeça no qual você vê algumas peças e pode deduzir como são outras. Mas, se ficar olhando para aquelas que ainda estão no monte e não para as que estão numa posição clara na cena, ficará muito perdido.

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O papel do RH é observar todos esses acontecimentos e como eles afetam às pessoas. Alertar aos executivos dos riscos e tensões que eles provocam e os limites dos profissionais, e recomendar ações que vão desde o aculturamento financeiro dos colaboradores, até o desenvolvimento dos gerentes e diretores para aumentar sua criatividade, resiliência e capacidade de lidar com períodos caóticos.

NEM TUDO SÃO SOMBRAS

Apesar do cenário um tanto sinistro, nosso país é o melhor lugar do mundo para viver os próximos anos:

Se a inflação é ruim em escala global, ela favorece países produtores de commodities agrícolas e metais, como o Brasil.

Além disso, nós temos uma enorme produção de alimentos e somos um dos povos mais caridosos do planeta.

Se conseguirmos absorver os choques inflacionários no bolso da população, teremos um longo período de prosperidade, mantidas as condições atuais.

Além de ter alertado, sem muito sucesso, é verdade, aos meus clientes sobre a inflação, também recomendei neste período que aguardassem até 2023 caso desejassem migrar para outro país, devido à possibilidade de uma guerra em larga escala. Ambos os avisos permanecem válidos.

Todos nós desejamos a paz no mundo, mas, além dela, devemos desejar e construir a paz interior que é a que mais precisaremos para fazer frente aos próximos anos. Além de rezar muito para isso, adquirir conhecimento sobre certos assuntos é decisivo.

Assim como as formigas, sei que são temas desinteressantes, mas não espere eles entrarem em sua vida para agir pois, sem a devida atenção e o entendimento prévio, poderá ser extremamente desfavorável.

Mantenha-se firme no leme!

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching