Quando tinha 15 anos, a discussão em um grupo de jovens na Igreja Católica sobre o versículo 4 do capítulo 12 do Apocalipse, me fez ficar 35 anos fora da Igreja.
O versículo é este aqui:
“E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar a luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.”
A discussão começou quando meus amigos queriam me convencer de que estrelas físicas cairiam sobre a terra, porque era o que estava escrito.
Eu, muito científico e didático, explicava que a massa das estrelas era muito maior do que a da terra e, portanto, este fenômeno seria impossível. Portanto, aquilo deveria significar alguma outra coisa.
Eles se enfureceram comigo e eu com eles devido à burrice com que interpretavam esta passagem.
Decidi me afastar da Igreja – e de Deus – para descobrir a verdade.
Sem orientação, comecei com os estudos sobre a física e fui parar no curso “Matemática aplicada à vida” do professor Aguinaldo Prandini Riccieri – que ainda é ministrado até hoje em São Paulo.
No curso, além de buscar alguma possibilidade física de uma estrela cair na terra, observei que muitos dos cientistas, matemáticos e filósofos citados não apenas acreditavam em Deus, mas tinham muita preocupação com a Igreja – como Blaise Pascal e Leibniz.
Ao terminar o curso, fiquei com muito conhecimento sobre física e matemática e sem resposta para minha questão.
E assim fiquei por muitos anos.
Procurei a resposta em vários lugares e cada vez mais chegava à conclusão não apenas da existência de Deus, mas de que a Igreja Católica era a direção a seguir.
Até que em 2017 em um curso sobre “Guerra Cultural”, onde tentava ver as conexões do tema com a Cultura Organizacional, o filósofo que ministrava a aula disse logo nos primeiros minutos:
– “Então, aquele trecho da Bíblia que diz que um terço das estrelas cairão sobre a terra nos informa que um terço dos clérigos – isto é bispos, padres – tornariam-se apóstatas e, portanto, ao renegar a fé católica, não serviriam mais para orientar aos leigos. Assim como as estrelas orientam os navegantes no mar, são os clérigos os responsáveis por fazê-lo ao povo. Portanto, a queda dessas significava que os leigos teriam de procurar pelas estrelas mais distantes, mais apagadas e, em alguns casos, se auto orientar em acordo com a fé de sempre, a fé dos Apóstolos.”
Ao ouvir isso pensei:
– Então a Igreja Católica está certa!
E trarei de voltar correndo. Não preciso dizer a quantidade e gravidade de pecados que alguém cometeu em 35 anos fora da Igreja verdadeira.
O CONTRASTE
Mas, justamente por ter ficado tanto tempo longe dela, percebi o contraste evidente entre a que deixei e a que retornei.
Ritos estranhos, falas duvidosas de padres e de bispos, e inimigos da Igreja participando da missa sem serem molestados nem pelo padre, nem pelos leigos.
Aquilo me perturbou, mas tinha mais problemas pessoais que tentava resolver ali.
Entretanto, ao aprofundar-me na Fé Cristã, os problemas da Igreja Católica foram se tornando cada vez mais evidentes e gravíssimos.
Para entendê-los é importante saber que um verdadeiro Papa não possui superior na terra, exceto os Papas legítimos anteriores a ele. Ou seja, um Papa não pode falar ou estabelecer algo contrário ao que qualquer outro Papa do passado tenha dito ou determinado. Se o fizer, constatamos que estamos diante de alguém que não é Papa.
Então, cito a Bula Quo Primum Tempore, do Papa São Pio V, de 1570, e que determina a imutabilidade do rito da missa, onde se lê:
6. E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por nós, em todas as Igrejas.
8. Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente bula, concedemos e damos indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição, seguir esse Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma sentença e censura, e isto para sempre.
9. Da mesma forma decretamos e declaramos os Prelados, Administradores, Cônegos, Capelães e todos os outros Padres Seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que por Nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal; e que a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a sua força.
Você pode adquirir e ler a Bula completa aqui: Amazon.
Quando você segue essa orientação, você chega ao Missal Romano, em latim, que evidencia as diferenças da missa moderna instituída por Giovani Montini e que possui uma diferença crucial na fórmula de consagração do cálice.
No missal moderno o sacerdote diz:
“Este é o cálice do meu sangue que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados.”
E no Missal Romano, o sacerdote diz:
“Este é o Cálice do Meu Sangue do Novo e Eterno Testamento: Mistério de Fé: que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados”.
De fato, é somente para aqueles que aceitam Jesus como seu redentor que ele derramou seu sangue e, portanto, não para todos, mas para muitos.
Estes são apenas dois exemplos da gravidade do momento em que se encontra a Igreja Católica.
Padres sendo perseguidos por celebrar no Missal Romano, ritos inválidos e supostos clérigos que não professam a Fé Católica.
Para um leigo a desorientação é quase total, exceto se você lembrar que, se não estamos no momento previsto no Apocalipse, estamos em um período muito semelhante.
AS ESTRELAS DISTANTES
Portanto, observar as conclusões de um cardeal como Carlo Maria Viganò, é fundamental para se orientar neste momento difícil que vivemos.
Viganò foi prelado da Igreja Católica e foi Secretário Geral da Província do Vaticano, isto é, esteve e viveu no âmago dessa igreja moderna, que foi instituída pelo Concílio Vaticano II e que chega ao seu ápice nesta proposta de Igreja Sinodal, em oposição à Igreja Apostólica – isto é uma igreja democrática, em oposição à Igreja Instituída por Cristo.
Em uma conferência histórica, em 26 de outubro de 2020, Carlo Viganò esclarece a gravidade do momento que vivemos. Você pode assistir a essa conferência aqui:
De lá para cá muitas outras conclusões e desdobramentos ocorreram e que culminam nessa perseguição aos verdadeiros clérigos católicos.
Para entender, em síntese, o problema atual, é preciso reconhecer que nossa Igreja não se encontra dentro de edifícios, até porque, no início, os Cristãos tinham de rezar a missa em catacumbas para não serem descobertos, perseguidos e mortos, mas, a igreja se encontra naqueles que professam a fé cristã.
Portanto, aquele que não o faz, simplesmente não pertence à Igreja. Não importa se leigo ou clérigo da mais alta ordem.
Esta constatação, nos leva à dolorosa conclusão de que, assim como os anglicanos se apossaram de edifícios que outrora pertenciam à Igreja Católica na Inglaterra, os inimigos da igreja fizeram o mesmo na sua parte mais alta.
EVIDÊNCIAS
Se você tem dúvida de que isso aconteceu, leia o que está escrito na página 29 do documento “Espiritualidade da sinodalidade”, onde se esclarece no que consiste um coração misericordioso e veja com quem o texto explica que devemos ter misericórdia.
Está em espanhol e destaco o trecho na imagem abaixo. Se você clicar nela irá para o original completo do texto.
¿En qué consiste un corazón misericordioso? Es un corazón ardiente por toda la creación, la humanidad, los pájaros, los animales, los demonios y todo lo que existe.
Isto se parece minimamente com o que a Igreja prega há 2.000?
O QUE FAZER?
Mas, então diante dessa constatação, o que fazer?
A verdade de nossa religião nos fornece a firmeza que nos ampara mesmo nos momentos mais apocalípticos:
Levantai a cabeça!
Nós não nos revoltamos como outras pessoas.
O católico simplesmente se afasta. E ao se afastar da falsa igreja encontraremos os clérigos verdadeiros que hoje são perseguidos e que expressam a verdadeira fé católica com coragem, resignação e perseverança. Longe do conforto e da riqueza material que se apossou do coração de muitos.
Estejamos conscientes de que ingressamos em uma noite cada vez mais escura e que ainda não chegou ao seu ponto mais sombrio.
Mas, lembre-se que o mundo aguardou 4.000 anos pela chegada do seu Salvador.
Portanto, não devemos temer a espera ou a noite muito escura. Pelo contrário, é à noite que Deus se manifesta.
Afinal, foi em uma noite, em um lugar muito distante e o mais pobre possível, que uma Virgem deu à luz ao Nosso Salvador.
Logo, quanto mais avançar a noite, mais exultai e mais esperançoso ficai, pois mais próximo está o reino do Imaculado Coração de Maria e, consequentemente, do Sagrado Coração de Jesus.
E lembre-se que os Santos Reis, não precisaram nada além do que uma única estrela para os guiar pelo caminho seguro até o Salvador.
Saibamos fazer o mesmo nesta noite tão escura.
Afinal, é Natal! Alegrai-vos!
Que Deus abençoe você e sua família neste Natal!
Silvio Celestino
Sócio-diretor da Alliance Coaching