AUTOCONHECIMENTO É A CHAVE PARA O DOMÍNIO EMOCIONAL

No meu artigo anterior falei sobre a importância do domínio emocional para o desenvolvimento da carreira.

Entretanto, no autoconhecimento está a chave para que possa verdadeiramente compreender-se e evoluir a partir do ponto em que se encontra.

Sem esta compreensão, o executivo ficará com o foco no desenvolvimento de idéias incutidas nele por outras pessoas e que nem sempre se aplicam aos seus gaps, seus desejos e às possibilidades de suas virtudes.

O autoconhecimento deve partir de duas áreas-chave: a camada da personalidade em que se encontra e a origem de seu conhecimento.

A camada da personalidade o permite reconhecer seus drivers, seus motivadores, e a origem de seu conhecimento revela o que sabe, de quem, o que é capaz de fazer com ele e o que precisa aprender.

EM QUAL CAMADA DA PERSONALIDADE VOCÊ ESTÁ?

Embora as empresas utilizem testes de perfil comportamental para conhecerem seus executivos, é importante você ter algo que demande uma reflexão mais profunda, abrangente e particular a respeito de si mesmo.

Estes testes são excelentes para os propósitos da empresa, mas sintéticos demais para abarcar toda a complexidade do indivíduo.

A reflexão sobre sua camada da personalidade permite a você perceber mais claramente em que ponto de sua trajetória se encontra, a partir do driver principal de suas ações e ter maior clareza do que falta amadurecer.

Embora seja possível ser observada de fora, o melhor é que seja uma reflexão pessoal e interior. De tal modo que, se você mentir, somente o fará a si mesmo.

É impossível sintetizá-las sem cometer omissões enormes em um artigo como este, até porque as camadas se baseiam em autores como Piaget (2), Freud (3), Jung (4), Lacan (5) e Frankl (6), entre outros. Peço licença aos especialistas para fazê-lo porque julgo importante que os executivos as conheçam ainda que introdutoriamente e de maneira imperfeita.

Portanto, inicialmente, pense quão diferentes sãos os motivadores de um bebê e de Nossa Senhora. Um está procurando dominar seu corpo, enquanto Outra somente deseja fazer o que Deus deseja que Ela faça.

Entre estes dois extremos de personalidade existem inúmeros drivers (7).

Eles são definidos em acordo com a camada em que você primordialmente se encontra.

Na primeira camada, focamos o nosso corpo: seu controle e, portanto, tudo que nos perturba corporalmente serve de motivador para nossos atos: dor, sono, fome, doenças, deficiências etc. É o bebê em busca do domínio de sua constituição física.

Na segunda camada, é quando você começa a compreender o seu passado, a percepção de gestos naturais de origem comum a seus antepassados, como se eles estivessem vivendo por meio de você. O driver é a busca de sensações, principalmente prazerosas e que, em geral, são providas pela família – a comida da vó, a brincadeira com os pais, os comportamentos da nossa tradição familiar que vão nos acompanhar pela vida toda.

A terceira camada é a do conhecimento primário. É a famosa fase dos “porquês” – quem já teve uma criança por perto sabe do que escrevo. Como se a consciência despertasse para um mundo inteligível e que ela quer sorver ao máximo e, principalmente, entender como as coisas funcionam.

A quarta camada é a que tem como preocupação a felicidade. O universo da afetividade entra em cena e a criança precisa sentir-se segura. Uma falha aqui pode causar um adulto problemático, que leva tudo para o pessoal e imagina ter direitos excessivos. Busca se sentir aceito e seguro emocionalmente.

A quinta camada é a busca pelo orgulho de si. Querer ter respeito por si mesmo. É o jovem que deseja vencer. Não quer perder e busca a vitória.

Na sexta camada, a busca é pelo bem objetivo: o dinheiro no bolso. O resultado é o que importa. Nesta camada, a crítica é ouvida como um meio de aprimorar-se para obter melhores resultados.

Na sétima camada, a motivação é entregar algo para a sociedade. O driver é entregar sua vida a serviço do outro. O indivíduo tem um senso de dever e sofre se não cumprir seu papel devido. Seu objetivo é saber quem se é no grupo e aceitar seu papel.

Na oitava camada, estamos preocupados sobre quem somos nós diante da morte. Busca-se um valor diante dela. Queremos a verdade, e nos preocupamos com o bem e o mal.

Na nona camada, é a vida intelectual. Seu interesse é buscar a verdade a qualquer custo. Foca a criação intelectual, a influência no mundo a partir dela.

Na décima camada, o indivíduo se vê como representante dos seres humanos, com autoconsciência e responsabilidade pelos outros. O importante é evitar a imoralidade e conquistar os meios para exercer suas idéias na sociedade.

Na décima primeira camada, é o eu histórico que conta. A pessoa quer durar por eras, mudar o curso da história e ser lembrado, impactar os rumos da sociedade.

Na décima segunda camada, o driver é Deus. A pessoa quer saber quem ela é perante Deus. Nesta camada o importante é nunca decepcionar a Deus e alcançar a redenção.

É evidente que a maioria esmagadora dos executivos está entre a quinta e a sétima camada. Os aposentados, na oitava.

É importante você refletir sobre em que camada está porque a personalidade é a principal arma do executivo, inclusive para o domínio das emoções.

Empresas com executivos resignados e com idéias iguais provavelmente terão sérios problemas para enfrentar crises pela falta de diversidade. O Consenso é bom para ter um clima organizacional positivo, mas, em excesso, pode significar que a musculatura executiva está fraca na empresa.

Entretanto, somente preocupar-se com as questões psicológicas de sua personalidade não lhe dará o autoconhecimento necessário para dominar suas emoções, pois elas provêm também dos conhecimentos adquiridos.

São eles que determinam seu horizonte de consciência e, portanto, o que você sabe e o que ignora.

É importante aqui você fazer uma distinção entre o que é ignorância e o que é nesciência.

Nesciência é quando você não sabe algo que, de fato, não precisa saber. Por exemplo, quantos fios de cabelo você possui? (Perdoe-me a pergunta, caro leitor, caso seja careca).

Mas, você não sabe e não precisa saber quantos fios de cabelo possui para ser um gestor.

Entretanto, se pergunto a um executivo: em qual momento do ciclo econômico estamos? Expansão, contração ou estabilidade? E ele não sabe, então, é um ignorante, isto é: ignora algo que precisa saber para exercer sua função.

Infelizmente, no Brasil, a ignorância é um problema muito grave porque as pessoas não sabem a origem e os limites de seu conhecimento.

QUEM TE CONTOU O QUE VOCÊ SABE?

Faço uma brincadeira em minhas palestras quando coloco as pessoas para conversarem entre si sobre Donald Trump. Em geral, o clima pega fogo. Elas se exaltam, conversam com intensidade. Dizem que ele é isso e aquilo com muita segurança.

Depois de poucos minutos, interrompo e peço agora para conversarem comigo.

Mas, informo que, para conversar comigo, tenho um critério.

Primeiro, quero conversar com aqueles que já leram quatro ou mais livros sobre Donald Trump, ou escritos por ele.

Acontece que li três livros, um que fala em um capítulo inteiro sobre ele (8) e dois escritos por Trump (9)(10) e, mesmo assim, não me considero qualificado para falar a respeito dele.

Tenho de admitir que os executivos são bons para encontrar as desculpas por não terem lido nenhum livro sobre Trump:

– Existe livro sobre ele?

– Ele é autor?

E, a mais irônica de todas que já ouvi:

– E precisa?

Então, na palestra, questiono a todos: se você nunca leu um livro sobre Trump ou escrito por ele, o que foi que você falou a respeito dele com tanta ênfase e certeza nestes minutos todos?

Mais importante ainda: quem te contou isso que você falou a respeito dele?

A ORIGEM DE NOSSO CONHECIMENTO

Faço então o mesmo exercício que peço a você agora:

Se queremos pensar fora da caixa, temos de saber em qual caixa nos encontramos.

Continuando a usar Trump como exemplo, pergunto aos participantes onde eles viram ou ouviram falar sobre ele. Quem exatamente falou para eles a respeito do Trump?

A maioria é imprecisa: foi a Globo, a GloboNews, a Folha etc. – lembro que empresas não falam, pessoas falam.

Alguns reconhecem que foram, precisamente, o William Bonner, a Renata Vasconcellos, o William Waack, o Guga Chacra, entre outros.

Mas, o importante é imaginar que, se estas pessoas estivessem em uma caixa, ela seria mais ou menos assim:

O chão da caixa é formado pelo Bonner, o teto pelo Guga Chacra, a frente por algum apresentador de canal do Youtube ou podcast, atrás está alguém do Estadão, à direita algum jornalista da Folha e à esquerda alguém da CNN.

Esta é a caixa na qual elas se encontram.

Pois, foram estas pessoas que lhes disseram o conhecimento que têm e propagam a respeito do Donald Trump.

Estes são os seus mentores.

Bem, na verdade, a maioria desses profissionais lê textos em teleprompters. Então, os seus verdadeiros mentores são aqueles que escrevem os textos que eles lêem e, portanto, desconhecidos.

PENSE FORA DA CAIXA

Sair da caixa exige que você saiba primeiro em qual caixa está, isto é, quem lhe contou o que você sabe.

Como a liderança executiva é exercida por meio do poder intelectual, vence quem sabe mais a respeito da verdade. Logo, se você não tiver discernimento, intuição ou experiência para reconhecer e escolher ouvir alguém que lhe diz a verdade, estará perdido.

QUAL SUA CAIXA PARA CADA TEMA RELEVANTE?

Vou dar, como exemplo, dez dos autores que leio e assisto a vídeos sobre finanças:

Mike Maloney (11), Chris Martenson (12), Catherine Austin Fitts (13), Michael Pento, Gerald Celente, Gregory Mannarino, Bill Holter, Robert Kiyosaki, Jim Rickards, Ronald-Peter Stoeferle, David Morgan entre outros

E três sites que me informam sobre o tema:

GoldSilver, Solari Report, ZeroHedge.

São estes os meus mentores para minha educação financeira.

Em finanças você quer ouvir a verdade sobre o futuro e, é claro, deseja que as pessoas concordem com você… mais tarde.

Você deve fazer o mesmo para saber em qual caixa se encontra sobre qualquer assunto.

Ela define o seu horizonte de consciência: isto é, o que você sabe e o que ainda não sabe e que está no seu radar para conhecer.

Este é um processo que você deve alimentar até o fim da vida. E ter humildade para reconhecer que jamais saberá tudo.

O seu conhecimento determina muito o seu domínio emocional porque é ele que o permite lidar, por meio de conceitos e métodos, com a realidade prática da vida executiva. Conseguir ou não fazer algo a contento é uma grande fonte de satisfação ou frustração.

ARTICULE PERSONALIDADE E CONHECIMENTO

A articulação destes dois fatores: a camada da personalidade que você se encontra e seu conhecimento, são as principais armas para você ter domínio emocional.

Nenhuma pessoa o tem em todos os momentos – isto seria inumano ou patológico.

O que é possível fazer é galgar as camadas da personalidade e alargar seu horizonte de consciência na esperança de conquistar a paz de espírito que almeja.

Afinal, viver em acordo com sua consciência e elevá-la cada vez mais é como estar livre em um mar para navegar em qualquer direção e com clareza para encontrar a costa onde deseja repousar seu espírito.

Não consigo imaginar liberdade e riqueza maior que esta.

Conte comigo no que precisar para desenvolvê-lo.

Vamos em frente!

Silvio Celestino

Sócio-diretor da Alliance Coaching

Notas:

(1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Tipologia_de_Myers-Briggs

(2) https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget

(3) https://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud

(4) https://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung

(5) https://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Lacan

(6) https://pt.wikipedia.org/wiki/Viktor_Frankl