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O que aconteceu com nossa concentração?
No fim de semana passado resolvi dar uma volta na estrada para aproveitar o dia de sol.
Como ficáramos muitos dias de férias e, portanto, sem usar o carro, ao entrar na estrada pela primeira vez vi acender o sinal no painel de que o óleo estava baixo.
De fato, está quase na hora de trocá-lo, mas resolvi somente completar e seguir viagem.
Foi um belo passeio.
De volta a São Paulo, seguíamos com o carnaval e por um motivo que não vem ao caso, resolvi abrir o capô do carro em casa e, para minha surpresa, vi que o frentista não havia fechado a tampa do óleo.
Felizmente não vazou muito. Liguei para o posto e fui buscar a tampa que, eles haviam guardado na esperança de que eu retornasse.
O supervisor do posto, trincado de vergonha, me explicou a quantidade de procedimentos que o frentista não havia feito e que eram obrigatórios quando da troca de óleo – inclusive a identificação do motorista – o que teria permitido a eles me localizarem eventualmente.
Disse que, certa vez, tiveram de chamar um uber para levar a tampa a um motorista que passou no posto, mas que seguiu viagem para o interior a uma cidade a mais de 300 Km de São Paulo.
Um grande prejuízo.
Este evento me fez observar o quanto estamos com problema de falta de foco no que fazemos.
A PERDA DA ATENÇÃO
O que aconteceu com nossa atenção?
É claro que a resposta imediata nos direciona para o celular, as redes sociais e os jogos que nos distraem 24 horas por dia.
Mas, é um problema ainda mais abrangente do que isso.
Quando você passa alguns dias de férias no litoral, observa que o mar, o céu, a areia e os coqueiros, não estão lhe pedindo nada. Você apenas os contempla como reflexos da beleza, imensidão e grandeza de quem os criou.
Mas, no instante em que pousa em São Paulo, é recebido no aeroporto de Congonhas com um painel gigantesco instigando você a comprar um novo chip de celular.
Na saída do aeroporto, taxistas gritam com você para contratá-los. A rampa que dá acesso à parte de baixo do aeroporto é coalhada da painéis de propaganda, tentando empurrar todo tipo de produto e serviço.
O local de embarque para o Uber e que também é o acesso para o estacionamento e para a plataforma de ônibus que levam passageiros para Guarulhos é uma experiência deprimente de desorganização, incivilidade e a incompetência costumeira do setor público em zelar pela ordem.
Portanto, neste caldo de distração com o celular, excesso de propaganda, desorganização e incompetência, como podemos cobrar foco por parte das pessoas?
VOCÊ ESTÁ SOZINHO NISSO
Não há nenhuma razão para imaginarmos que nosso entorno vá melhorar e esperarmos que alguém faça alguma coisa não é uma estratégia com chance de sucesso.
Cada um de nós terá de arcar com a responsabilidade de escolher o que será nosso foco em cada área de nossa vida e defendê-lo.
Como você pode fazer isso?
Ter foco está relacionado com sua capacidade de gerenciar as distrações.
Se você tenta lidar com todos os temas que imploram por sua atenção, irá perder-se. A escolha tem de ser sua e consciente.
Por isso que, no passado, escrevemos sobre seu plano de vida e de que é ele quem deve orientar sua carreira.
Mas, é também ele o principal orientador do que você dará foco e o que desprezará.
A IMPRESCINDÍVEL GESTÃO DA DISTRAÇÃO
Uma vez com essa informação poderá responder às três perguntas que permitem a você gerir as distrações:
O que te incomoda internamente?
O que te incomodo externamente?
Como você vai lidar com isso?
Internamente, o nosso incômodo está relacionado com dores físicas, emoções e pensamentos dispersantes, principalmente.
Externamente, são as pessoas, o ambiente, a ergonomia, os celulares e suas infinitas distrações.
Portanto, você deve começar tendo consciência de todas as solicitações dispersantes que a modernidade, a tecnologia e a adoração à mudança constante geram para você.
Cuidado para não imaginar que a maioria tem sempre razão: as decisões sobre sua vida não são democráticas, você é o soberano.
Se você decide ser ou fazer algo que não é o que a maioria é ou faz, é claro que haverá consequências, mas se a decisão for consciente, pautada na verdade e moralmente correta, não há o que temer.
Pelo contrário, por que você escolheria estar com a maioria se ela estiver no erro, na mentira e na indecência?
Escolha bem os assuntos a que dará atenção.
Claro que, como executivo você terá um tempo muito relevante de sua vida dedicado a temas do trabalho. Mas, a dedicação a assuntos que lhe são relevantes mesmo que distantes do que você faz, é importante para sua saúde mental e emocional.
Nem todos nós temos a capacidade de um Aristóteles ou de um Leibniz, figuras que escreveram praticamente sobre todos os assuntos relevantes para o ser humano.
Mas, ter algo que você estuda com profundidade, fazer atos de caridade, ou mesmo um hobby podem contribuir muito com o desenvolvimento de sua concentração e maturidade.
Sem essa seleção consciente, você será arrastado para um sem-número de temas e distrações que o farão girar desordenadamente, como se estivesse em um redemoinho.
Entretanto, não esqueça que, o centro de um redemoinho é um vazio que lhe puxa para baixo.
Eu mesmo tenho de controlar minha compulsão por notícias. Mas, para isso, escolho bem o que chamo de hubs, que são sites que concentram as notícias de várias fontes e possuem um critério de classificação de relevância que filtra somente as que dizem respeito aos temas que me interessam.
Com isso, não perco um tempo excessivo para ter um panorama do que está acontecendo de relevante no Brasil, no mundo e ao que afeta meus clientes.
EXCESSO DE TEMAS DISPERSANTES
Quando vejo os temas que chamam a atenção das pessoas fico abismado.
Para ilustrar, abro neste instante um grupo de discussão sobre o Brasil e as três últimas postagens falam sobre a obrigatoriedade da imunização de crianças para uma doença que não as afeta, as exigências de ESG de uma multinacional e Javier Milei – presidente da Argentina.
No grupo sobre cultura organizacional, as últimas postagens são um artigo sobre marketing de varejo e tendências da NFR 2024. Observações sobre um hacktown, Web Summit no Rio de Janeiro e sobre o cantor Jello Biafra que gravou uma música comparando Putin e Trump.
Como alguém pode achar que dá conta de compreender todos esses assuntos, classificá-los e tirar conclusões relevantes para si? É impossível.
Você terá de fazer uma seleção rigorosa e ficar somente com o que seu tempo permite.
SEU TEMPO É SEU TESOURO
E tempo de atenção é o artigo mais escasso, relevante e valioso de todos. É nele que você vai decidir o que fará para a salvação de sua alma e… se vai se lembrar de fechar a tampa de óleo do motor do seu cliente.
Portanto, o exercício de gestão da distração deve ser recorrente e capaz de auxiliá-lo a rapidamente saber o que fazer com cada solicitação ou informação que lhe chega.
Grande parte dos retrabalhos, falhas e acidentes que ocorrem nas empresas não é por falta de procedimentos, orientações e regras, mas porque a cabeça das pessoas está encharcada de temas, preocupações e principalmente distrações.
Aliás, você se distrai justamente daquilo que não dá conta ou não quer lidar.
Uma pessoa que escolheu bem o que fazer não se preocupa em distrair-se porque o trabalho, seus estudos e responsabilidades lhes são muito convidativos e interessantes.
MATURIDADE É BOA
Por último, também precisamos fazer as pazes com o sacrifício. Isto é, nem tudo na vida – na verdade boa parte dela – é para nos fazer feliz, mas para cumprir nossas responsabilidades com a família, o trabalho e principalmente com Deus.
Portanto, façamos nosso exercício de gestão do foco, escolhamos bem ao que daremos nossa atenção e tenhamos maturidade para fazer nossa quota de sacrifícios.
Este balanço nos dará uma vida mais plena e real do que a idéia infeliz de que tudo é para nosso prazer, diversão e alegria.
E é para uma vida real que devemos nos dedicar, dar nossa atenção e o melhor de nós mesmos em todos os instantes pois é por meio dela que nos sentiremos verdadeiramente preenchidos e felizes.
Uma vida com foco!
Conte comigo para ajudá-lo nisso e vamos em frente!
Silvio Celestino
Sócio-diretor da Alliance Coaching
Autor do livro: O LÍDER TRANSFORMADOR, como transformar pessoas em líderes
